Consciência de disciplina dentro e fora das mesas - Parte II
Por André Dexx - CardPlayerBrasil
Na edição passada ( Clique Aqui para ler ), vimos que há fatores “Dentro da Mesa” (DM) e “Fora da Mesa” (FM) que devem ser trabalhados se quisermos obter sucesso no poker, ressaltando a fundamental importância da disciplina nesse processo. Concluímos a Parte I mostrando por que investir em um coach, por exemplo, gera um retorno mais perceptível (porque reflete diretamente na win rate). Aqui, veremos algumas razões pelas quais os itens FM, que repercutem de forma indireta, também são tão relevantes.
A vida do jogador profissional é
uma corda bamba, em que qualquer abalo emocional ou falta de atenção são
como rajadas de vento. Se quiser evitar a queda, é preciso ser rápido
para se equilibrar de novo. E para não cair, é preciso permanecer
andando, concentrado, de forma compassada. Cientes disso, precisamos
compreender que qualquer modificação em um dos fatores acaba
interferindo nos outros, seja dentro ou fora da mesa. Veja alguns
exemplos em que itens FM modificam os demais e afetam o desempenho do
jogador.
Quando o assunto é saúde, é sabido
que praticar uma atividade física interfere diretamente na sua
disposição para jogar, no seu raciocínio e percepção do jogo, e na sua
capacidade de passar mais tempo em frente ao computador. Já o descuido
com a saúde causa problemas de toda natureza, desde o ganho excessivo de
peso até tendinites que podem impedi-lo de jogar durante meses.
Outra questão que precisa estar
bem definida é a aceitação de sua companheira em relação ao jogo. Quando
sua namorada/esposa o apoia e é compreensiva em relação ao que você
faz, o retorno direto disso se dá no campo emocional, deixando você mais
tranquilo para se concentrar no jogo. Se ela não aprovar que você jogue
e não compreender isso como um trabalho, seus resultados no poker
tendem a sofrer um prejuízo bastante sério.
No próximo exemplo, vou tentar
transcrever com mais detalhes outra situação da vida real que afeta
nossa lucratividade. Digamos que um jogador regular de NL200 utilize uma
cadeira da mesa da sala para jogar. Ele disputa uma média de 70 mil
mãos por mês e, normalmente, sua win rate fica em torno de 2 PTBBs (isso
equivale dizer que ele ganha 4 big blinds a cada 100 mãos), de modo que
sua rentabilidade costuma ficar próxima dos $5.600 mensais. Depois de
dois anos usando essa cadeira, ele resolve comprar uma melhor, e começa a
pesquisar. Nosso herói decide que não precisa ser uma “Aeron Chair” da
Herman Miller, bastando ser uma cadeira confortável, na faixa dos $600.
Feito o investimento, vejamos os
resultados: depois de algum tempo, ele percebeu que sua capacidade de
“grindar” tinha aumentado – as 70 mil mãos de antigamente já não eram
mais seu limite de produtividade, que subiu para 85 mil. Também a
qualidade das mãos melhorou, uma vez que ele constatou que sua win rate
agora estava em 2,2 PTBBs.
Numa análise simples e direta,
porém plausível, vemos que a cadeira nova fez uma diferença importante
na rentabilidade desse jogador, modificando o número e a qualidade das
mãos de maneira substancial. Após esse upgrade no item “conforto no
ambiente” (FM), ele passou a lucrar $8.480, uma diferença de quase $3
mil, mais da metade do que ele ganhava. Foi um bom investimento?
Acredito que sim.
Mas, atenção, não se engane: a
administração do bankroll serve de suporte para a evolução do seu jogo!
Como eu disse, essas aquisições realmente fazem com que a qualidade do
seu jogo aumente, mas você terá que fazer os mesmos investimentos que
faz ao subir de nível (move up). E, do mesmo modo que você não deve
passar a jogar em um limite superior se não tiver os buy-ins necessários
para suportar a variância, o mesmo vale para esses investimentos. Como
de costume, sua mente quer “lhe passar a perna”, e você acaba muitas
vezes sendo dominado por ela. Não compre o home theater mais caro do
mercado para escutar o barulhinho das mesas online – tente entender suas
necessidades e seja coerente com elas. A cadeira serve como um bom
exemplo, mas talvez haja elementos até mais importantes, como um monitor
maior, em que as mesas não fiquem sobrepostas e caibam em maior
quantidade na tela.
Também é possível aumentar a
qualidade dos nossos jogos se, digamos, estivermos em um ambiente
silencioso. Para os mais jovens, é importante pensar se não é o caso de
morar sozinho, trabalhando de acordo com o próprio horário, num ambiente
montado ao seu próprio gosto, sem ser perturbado por ninguém. (Por
falar nisso, tenha em mente que, por mais que as pessoas aceitem o poker
como um trabalho, quase ninguém de fora do meio entende direito os
dilemas do jogador profissional. Então, até para evitar qualquer tipo de
desgaste desnecessário, se você tiver condições de morar sozinho, isso
não seria má ideia).
No final das contas, chegamos à
conclusão de que é primordial ter um sólido conhecimento teórico do
jogo, mas que o lado prático acaba sendo ainda mais importante. De nada
adianta ser o maior teórico do mundo, se você não souber quando e onde
aplicar esse conhecimento.
Portanto, olhe para sua vida como
se fosse parte desse jogo, e jamais se esqueça de que todos os elementos
de dentro e de fora da mesa estão interligados. Está cada vez mais
difícil ter um bom retorno financeiro no poker, então ou você mergulha
de cabeça e se prepara para esses desafios ou vai ficar por aí chorando
suas bad beats. ♠
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