Vou ou Não Vou?
A lógica por tras da seleção de mãos
Uma das dúvidas mais comuns entre os jogadores de poker diz respeito à
seleção de mãos pré-flop. “Vale a pena jogar com estas cartas nesta
posição?” e “como devo jogar quando receber tal mão?” são algumas das
perguntas mais frequentes que os leitores me fazem. Chegou a hora de
entender as razões por que se deve ou não jogar com determinada mão, e
qual a melhor maneira de se fazer isso.
Para acabar com essa dúvida de uma vez por todas, a primeira coisa que
se deve ter em mente é que existem apenas três ações possíveis quando
você resolver jogar com determinada mão: call, raise ou reraise. Entenda
o raciocínio por trás de cada uma delas:
CALL
Na hora de decidir pagar uma aposta, a posição é o aspecto mais
importante. Quando você estiver no small blind, deve dar call a
conta-gotas, aqui e ali e olhe lá. Jogar fora de posição depois do flop é
uma desvantagem complicada de se reverter.
É importante também observar quantos jogadores faltam falar. Quanto
menor o número, maior a sua gama para dar call. Traduzindo, quando
alguém der raise, o jogador no button é quem deve pagar com maior
frequência, seguido pelos blinds. Por outro lado, o jogador
imediatamente à esquerda de quem aumentou deve entrar menos vezes na
mão.
A matemática para a decisão de dar ou não call é relativamente simples.
Softwares como o PokerStove, FlopZilla e Equillator podem te mostrar com
que cartas você deve pagar um aumento de determinada posição.
Por exemplo, a porcentagem de vezes que você dá call contra um raise do
UTG deve ser de aproximadamente 45%, somando todas as posições da mesa.
RAISE
Para disparar um caminhão de fichas e mostrar quem é que manda na mesa, é
preciso escolher cartas que acertam todo tipo de flop. Se só
aumentarmos com cartas altas, será moleza para os adversários nos
enfrentarem. Ficaremos previsíveis.
Em sua gama de aumento pré-flop, você precisa incluir mãos como 8-7 do
mesmo naipe. Se não for assim, você vai sofrer nas mesas. “Se eu quiser
me dar bem no poker, preciso soltar um pouco mais meu jogo e dar mais
raises”. Jamais se esqueça disso. Tatue no braço, se for preciso.
Priorize mãos que possam lhe render potes grandes. Algo como J♠T♠, por exemplo, que completa flushes e sequências, vale muito mais do que A♥9♣. É verdade que estas últimas conseguem pares altos, mas não são jogos suficientes bons para um all-in de 100 big blinds.
Em contrapartida, cartas sequenciais do mesmo naipe, ou “suited connectors”, como J♠T♠, acertarão draws muitos fortes. E quando isso acontecer, você vai lamber os beiços querendo colocar todas as fichas no pano.
E novamente: posição! Não é à toa que ouvimos falar disso o tempo todo
no poker. Quanto menos adversários você estiver encarando, maior a gama
de mãos para aumentar a aposta.
Vamos supor que sua mesa tenha seis pessoas e os caras sejam muito bons.
Nesse caso, tente dar raise uma a cada sete mãos quando estiver no UTG.
Mas se você for o button, suba esse número para três a cada cinco
vezes. Por quê? Porque você terá vantagem de posição e enfrentará menos
adversários depois do flop.
RERAISE
Existem três gamas básicas de mãos para o reraise antes do flop. A
primeira deve ser usada contra oponentes que sempre dão call em seu
reaumento. Esse é o adversário mais fácil, definitivamente. Você verá
muitos calls com mãos piores e dominadas. Contra ele, utilize sempre as
melhores cartas do baralho.
Aqui, não é preciso se preocupar tanto em balancear a gama, pois esse oponente desavisado não presta tanta atenção aos detalhes.
A segunda gama entrará em campo contra caras que nunca pagam o reraise,
sujeitos que polarizam suas ações entre fold ou re-reraise, a velha
4-bet. Essa situação é típica de quando o oponente está fora de posição.
Aqui, cai bem um reraise pelo valor com mãos fortes (AA, KK, AK, QQ e
JJ). Ou então um raise blefando com um ás na mão, que funcionará como
bloqueador. Com o número de combinações de AA e AK reduzido, o oponente
terá menos resistência contra você.
Por último, contra adversários fortes, é necessário balancear a gama de
reaumento. Uma proporção interessante é dar reraises pelo valor 40% das
vezes, e 60% como blefe ou semiblefe.
Com isso, eles terão dificuldade de explorar sua gama. Quando houver
resistência, e o oponente forte voltar um re-reraise, você precisará se
defender 40% das vezes para impedir que a jogada dele seja lucrativa.
Agora que você já entende a lógica por trás da seleção de mãos, tente
aplicá-la ao seu jogo. Não é preciso ser profissional de poker para
jogar bem, basta bom senso e alguma dedicação. Isso já será o bastante
para você virar o “shark” da galera.
EM QUE SITUAÇÃO A GAMA DE MÃOS COSTUMA SER MAIS AMPLA?
No poker, a situação em que as gamas são mais amplas é durante a chamada
“guerra de blinds”, quando há o confronto entre small blind e big
blind.
Isso acontece, primeiramente, porque o small aumenta com uma gama bem
ampla, levando em conta que há apenas um adversário a falar. Em um
cenário ideal, ele só daria menos raises do que o button.
Depois, porque o big blind também usa uma gama de mãos bastante grande
para defender. Além de a briga ser apenas entre ele o small, o big blind
sempre terá posição pós-flop. E como ele foi forçado a colocar uma
aposta obrigatória, terá odds mais favoráveis para o ver o flop.
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