Bom dia, pessoal! Boa tarde, pessoal! E, por fim, boa noite,
pessoal! Dependendo da hora que vocês lerem essa análise estou coberto...
hahaha!
A análise de mãos dessa semana caiu para mim, então, vamos
ao trabalho.
Analisarei uma mão interessante, ocorrida no evento "The Big One" durante o WSOP 2014,
entre o profissional americano Scott Seiver e o profissional alemão Tobias
Reinkemeier. Guardem bem essa palavra: “profissional”, ela será de extrema
importância no final.
Na mesa, dia final do evento de 1 milhão de dólares, só
fera, com os astros da nossa avaliação, estavam, pela ordem de ação no vídeo:
Negreanu, Newey, Seiver, Solomon, Vogelsang, Colman e Reinkemeier.
Negreanu olha um T7 offsuited e da fold, Newey olha um 74
offsuited perfeito para fold, Seiver, com um KT de ♠, resolve aplicar um
aumento (Raise) para 1.200.000 fichas.
Na sequência, Solomon folda um 32 de ♦, Vogelsand folda
um T5 offsuited, e a ação chega em Colman, que para e pensa por um momento com
um J9 suited de ♦ e, por fim, fold.
A ação, então, chega no alemão Reinkemeier, que observa um
ruidoso par de Ases em seu pocket.
Agora, aqui, cabe ressaltar que, o correto seria um reraise,
porém, nosso herói opta por um call simples. Por quê? As opções navegam entre fazer
um slowplay para extrair valor, ou simplesmente, com conhecimento do adversário
esperar o flop e a reação de Seiver para saber em que pé o seu overpair estava
na mesa. É o popular “jogar o jogo”, que engloba, tanto no slowplay como no
simples call raise, em diminuir, e muito, a equidade de seu AA.
A dealer espalha na
board um 4♣, uma Q♠ e um 2♣. Reinkemeier,
nitidamente sem posição, vendo o flop, da check com seu AA.
A ação volta para Seiver que, mantendo a pressão inicial, faz
uma Cbet (Continuation Bet), num aumento para 1.500.000 fichas.
Reinkemeier, sério, após alguns segundos, novamente apenas
da call, mostrando insegurança com seu AA.
A dealer arrasta um choroso J♣ para o turn, dando a
Seiver um Straight Draw e não influenciando em nada a mão de Reinkemeier.
Novamente, a ação volta para Reinkemeier e seu AA. Mais uma vez, ele faz check.
A essa altura, eu já abandono a tese de slowplay, a board está assim:
Possibilidade de flush de paus e possibilidade de straight. Aparentemente, Reinkemeier
respeitou demais seu vilão no início da mão e, agora, estava pagando por isso
se encaminhando para uma decisão dificílima no river. Mas, ele não chegaria até
lá...
Seiver, então, brinca com algumas fichas e, para surpresa do
narrador, anuncia allin, de 6.850.000 fichas! O pote agora estava em 13.050.000
fichas, um verdadeiro sonho para aqueles jogadores. Reinkemeier teria que tomar
aquela decisão difícil agora, e não no river.
O que se segue é Seiver saindo do personagem, falando pelos
cotovelos, enquanto Reinkemeier, sério e concentrado em sua decisão, se
transforma numa estatua em posição mongoloide, o que provoca até gracejo de
Seiver que se inclina, em certo momento, sobre a mesa para ver se Reinkemeier
não teria dormindo ou tido um AVC.
Em volta, todos na expectativa! Juro que vi uma babinha
escorrer do canto da boca do Negreanu!
Depois de muito pensar, eis que Reinkemeier toma a decisão!
Ele folda o AA.
Em seguida ao burburinho, há o pedido de Seiver para ver as
cartas e mostra seu KTs, ao que ele acena positivamente quando Reinkemeier abre
o AA na mesa.
Bom, eu, pessoalmente não estou no nível de ter o sangue
frio que o alemão teve, mas concordo com o fold dele. Ele foi levado pelo vilão
a mão inteira, se sua intenção inicial era extrair valor com um slowplay, essa
havia caído por terra mediante a agressividade com que Seiver atacou aquela
board. Ele, como profissional, percebeu que escolheu a abordagem errada no
PreFlop e analisou a board da seguinte forma: Seiver poderia ter, claro, uma
trinca ou dois pares sempre; mas, ainda naquela mao poderia ter um pocket de
paus e feito um flush no turn, ou, ele poderia ter uma carta de paus e estar
arriscando, aparado pela sua agressividade durante a mão, um blefe para
arrastar o pote; poderia, ainda, ter um KT ou K9 e, se viesse um A para sua
trinca, fatalmente Seiver ganharia com uma sequência. Sim, tudo isso passa pela
cabeça de um jogador profissional nesse momento, e muito mais, inclusive a
situação de torneio, afinal, era um torneio com 1 milhão de dólares de BuyIn (e
você achando que a babinha o canto da boca do Negreanu era atoa ne?.. hehehe),
há muita coisa em jogo além de uma mão naquele momento. Mas, a mais importante
de todas as coisas, é a noção exata do que você fez e passou até chegar àquela
situação (que vai desde a sua preparação até a forma como você jogou aquela mão
em particular), além de onde e com quem você está jogando. Isso, a meu modo de
ver, foi perfeito no nosso herói.
Mas, e você? O que você faria no lugar dele? Antes de
responder, lembre-se da palavra que eu destaquei no início e pense bem na sutil
diferença que todos nós que jogamos poker queremos alcançar e, veja um dos
momentos em que essa diferença se revela. ;)
Veja o vídeo abaixo e, a todos, obrigado e boas mesas!
MarcioCP
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