A Arte do Overpair e/ou
Overcard
Outro dia, algumas pessoas nos perguntaram sobre as
estratégias e jogadas do poker.
Eu, macaco velho, observei que, no geral, todos que começam
com o poker — e friso que comigo não
foi diferente — se apegam a entrar em mãos com AA, KK, QQ, JJ, TT já achando,
com toda certeza, que serão os ganhadores da mão.
Isso... Essa “estratégia básica”, possui até regras
fundamentadas para iniciantes, como: o tipo de aposta deve ser feita com essas
mãos considerando a posição do jogador na mesa; quando ir allin e quando obter valor da mão; enfim, diversas funcionalidades
atribuídas às chamadas “cartas mais fortes”.
Eu não tiro o mérito disso, afinal, aprendi assim, da mesma forma
que 99,99% dos jogadores de poker,
sejam online ou profissionais do feltro live,
porém...
Sim... “porém”.
Após tantos anos jogando e observando outros jogadores, fica
evidente que a verdade sobre overcards
e overpairs não é de forma nenhuma
absoluta.
Você que está começando a jogar poker e vê num par de ases a solução para a lucratividade
de sua sessão, deve saber que, em grande parte do seu pensamento, você está
completamente equivocado.
Um par de ases,
bem como um pocket de overcards pode ter uma sobrevida
extremante pequena: os poucos segundos
que separam sua aposta da distribuição do flop.
Bad Beat
Claro, isso não é nenhuma genialidade a se dizer, porém, há
os iniciantes que ficam extremamente transtornados ao verem seus AA, KK, QQ,
JJ, AK, TT, KQ, AQ, AJ e KJ sendo batidos tão rapidamente por um 33, por um 34,
por um 98, por um 49, ou ate por outro overpair
menor ou pocket de overcards menor que duplica ou trinca no
flop, no turn ou no river,
perdendo assim a capacidade de discernir, nomeando o ocorrido como uma Bad Beat.
Acabam xingando as cartas, amaldiçoando o salão, e
acreditando que o azar, acima de tudo é o guia de suas vidas e infortúnios.
Bom, apague isso da cabeça.
Bad beat, para ser honesto, não é quando
você perde com AA para um 96 que recebeu uma sequência no river, ou perder para um 22 que trincou no turn quando você abriu suas apostas com um lindo par de damas ou um
escroto par de reis e, com toda certeza, não é bad beat quando você dá
aquele allin de peito aberto com um
ruidoso par de valetes e acerta o fucinho em um estrondoso par de ases.
Isso não é bad beat, isso é excesso de confiança
aliados a clara falta de percepção de que o poker
é um jogo de matemática e habilidade que requer paciência, persistência, estudo
e, acima de tudo, um alto nível de concentração.
Não Supervalorize Suas Cartas
— “Ok! Você já falou tudo! Tenho que ser um nerd para jogar poker! Então, adeus. Boas mesas! FUI!” — dirá você agora.
Não, você não precisa ser o Bill Gates para se tornar
um André Akkari, um Phil Ivey mas, sim, ter em sua mente que, o
jogo não é tão simples a ponto de entrar numa mão com um overpair e achar que ela está ganha de qualquer forma porque você
faz isso 10 vezes e ganha 2 ou 3 e acredita no “longo prazo”.
Longo prazo funciona no poker, mas... a longuíssimo prazo!
Por isso, pegue um atalho: use a inteligência e o estudo, invés
do “dispare 10 balas para acertar um tiro no alvo”.
Você tem que entender que, o pocket, nada mais é do que o primeiro movimento de uma mão jogada
e, se esse primeiro movimento foi o vencedor só saberemos após o último
movimento da mão que, pode ser um fold
do seu adversário ou um showdown
feliz para o seu pocket. Mas, até lá
NÃO SUPERVALORIZE SUA MÃO E, JAMAIS ACREDITE PIAMENTE QUE ELA NÃO É PASSIVEL DE
FOLD.
Estou cansado de observar — e de sofrer também — em jogadas
que um jogador possui um AA e ele vai ate o showdown,
inclusive puxando um allin, tendo 4
cartas naipadas ou em sequência na mesa, sendo que o ás do naipe não está na
sua mão e o vilão paga com uma carta baixa do naipe e derruba o AA com um flush de 4 cartas ou uma sequência de 4
cartas ou até dois pares.
ISSO NÃO É BAD BEAT, isso é supervalorização de uma mão,
em que o jogador se achou abençoado por Deus, porque tem em sua mão AA.
Não, Deus não tem nada a ver com poker. Se você quer comungar com Deus, vá a uma igreja, não sente
numa mesa de poker e culpe-o ou
agradeça-o por uma mão ganha ou perdida. Quando muito, agradeça por ele ter
criado a matemática para você usar como arma contra as casualidades do destino,
mais conhecidas como sorte e azar.
Numa mesa de poker, você está por conta própria.
Numa mesa de poker, você está por conta própria.
A Psicologia e a Matemática do Poker
Bom, ateísmo a parte (até porque eu não sou e nesses anos já
confundi muito as coisas culpando Deus pelas perdas no poker e agradecendo pelos ganhos também), estou enveredando para um
lado meio psicológico agora.
E psicologia é um item que você deve ter em mente que é o
maior aliado da matemática no poker.
Mas isso de matemática, psicologia, são fundamentos mais avançados que você
deve ver mais a frente, quando dominar não só o jogo, mas a si próprio se dando
conta que, após o primeiro movimento (pocket),
existem outros movimentos até chegar ao desfecho (fold ou showdown) que
você deve dar tanta importância quanto ao fato de ter recebido uma mão
considerada premium de saída, porque a
mensagem deste texto é que, tanto overpairs
como overcards não são a certeza de
uma vitória no poker, e que, se você
pensar que são e glorifica-as como tal, jamais você chegará a ser um grande jogador
de poker.
Controle a ansiedade e a pressa quando receber uma mão premium e procure observar o seu
adversário e pensar acima de tudo: “Eu tenho um AA, mas, com essas cartas na
mesa, e levando em conta a reação dele ao modo como eu estou jogando essa mão,
será que eu estou mesmo na frente?”
Bom, se após avaliar as mãos possíveis de serem formadas com
as cartas da board, a resposta for
“sim”, extraia valor máximo que puder, mas, se for “não”, aceite que,
simplesmente, essa não era a vez matemática da sua mão premium ganhar e diminua o prejuízo, seja jogando a mão com mais
cuidado (e aqui chamamos a atenção para um fundamento importante no poker que é o controle de pote, estude
isso), ou até mesmo foldando sem
remorso sua mão premium.
Bad Beat é, sim, ter um flush com A no flop ou no turn e seu vilão fazer uma quadra
ou full house no river. É ter uma sequência e seu vilão acertar um runner runner de flush no turn e
river. É fazer um full house
e seu vilão abrir um full house maior ou quadra. É acertar um difícil straight
flush, só para ver seu vilão abrir na
carta que te deu o straight flush um espetacular Royal Straight Flush.
Isso sim são bad beats, o resto são consequências
matemáticas que fundamentam a estrutura do poker.
Por isso, autocontrole nesses momentos é a melhor arma para enfrenta-las ou até
usá-las contra seus vilões.
Bom, é isso, não existe mágica para jogar overcars ou overpairs, a arte real de jogar com essas cartas é ter a
consciência de que um AA vale tanto quando um 22 no preflop.
Portanto, não se intimide, jogue com respeito e clareza e
deixe a matemática seguir seu curso. Sua arma é ter a cabeça tranquila para
saber quando deve afundar o pé e quando deve desistir, mesmo com um “poderoso”
AA.
Boas mesas a todos. Grande Abraço!
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