quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Arte da Continuation Bet



A Arte da Continuation Bet


Por Fabio Eiji - CardPlayerBrasil

Hoje o assunto será continuation bet. Este é mais um tema bem familiar a todos os níveis e uma das primeiras ferramentas que (mais ou menos) aprendemos a utilizar. Trata-se da aposta que fazemos no flop quando somos o agressor pré-flop, ou seja, continuamos a agressão. A lógica dessa jogada parte do pressuposto de que, para defender-se de uma aposta, o vilão em tem que acertar o flop, mas isso acontecerá em torno de 35% das vezes.
 
Ok, isso faz bastante sentido se falarmos de um poker jogado em 2008 ou 2009. Hoje, já não é bem assim que a coisa funciona.
 
Os jogadores, mesmo os recreativos, de maneira geral, aprenderam a jogar e praticamente não cometem erros quando falamos do jogo pré-flop. E eles sabem que, quando decidem pelo call, enfrentarão uma continuation bet muitas vezes. Ou seja, já estão acostumados e muitas vezes preparados para enfrentar e reagir a essa jogada.
 
É comum encontrar por aí jogadores, mesmo regulares vencedores, que ainda não se adaptaram a essa nova realidade e cometem o erro de "cbetar demais", ou seja, fazer continuation bets de maneira automática sem fazer as devidas considerações sobre. 
 
Antes de fazer a cbet, é preciso pensar em alguns elementos importantes, que são:
 
- Range que representamos;
- Range que enfretamos (perfil do oponente - loose, tight, passivo ou agressivo);
- Textura do bordo;
- SPR (Stack Pot Ratio); 
- Valor ou blefe.
 
Complementando os elementos acima, há a continuation bet que não se encaixa em valor nem em blefe, que seria a aposta "para recolher o dead money". Por exemplo, cbetar um AK num bordo 772 rainbow para ganhar o pote ali, já que mãos que sejam live cards ainda têm 6 outs para melhorar e dificilmente reagirão agressivamente nesse tipo de flop.
 
C-bet por valor e por blefe
 
Se estamos apostando por valor, devemos considerar as seguintes questões:
 
- Qual o range que estou enfrentando? Esse range acerta esse bordo? 
- É possível extrair 3 streets de valor (fazer o oponente pagar flop, turn e river com mãos piores)? 
- Que tipos de turn vão me fazer desacelerar?
 
Se a reposta para alguma das duas primeiras perguntas for não, então, geralmente, o check será melhor que a cbet. 
 
Já se estamos cbetando por blefe, devemos considerar:
 
- Qual o range que estou enfrentando? Esse range acerta esse bordo? De que forma?
- Quais turns continuarei a blefar? Que mãos pagariam flop e foldariam turn?
- Quais rivers continuarei a blefar? Que mãos pagariam flop e turn e foldariam river?
 
Ou seja, é necessário que, antes de fazer a cbet, tenhamos um plano em mente para as próximas streets. Já que a idéia é continuar apostando em muitos turns e rivers que nos ajudarão a representar mãos fortes, é importante que a tenhamos equidade para melhorar a efetividade da jogada. Gutshots, backdoor straight e backdoor flush e overcards costumam ser o suficiente.
 
Exemplo:
 
Temos 18bbs e abrimos miniraise do HJ com A8hh e o BB, com 30bbs, paga. O pote tem 5.5bbs.
 
Flop Ac 6h 2d. Oponente vai de check.
 
Análise:
 
Muitos jogadores fariam a cbet de maneira automatica aqui. Afinal, temos top pair! Mas sugiro que pensemos um pouco mais a respeito.
 
A nossa aposta aqui seria por valor ou por blefe?
 
"Por valor, claro" diria um leitor mais desatento! Porém, devemos começar pensando no range que faz o call pré-flop aqui. Podemos excluir AJ+ e 88+ pois quase todos os oponentes iriam de 3bet pré-flop com essas mãos. Ao mesmo tempo, temos blockers pros Ases, o que reduz significamente a frequencia de Ax que enfrentamos. Mesmo assim, ainda é mais comum um oponente fraco flatar broadways e pares do que Ases nesse cenário.
 
Agora, vamos pensar nas mãos que representamos. Geralmente, o A acerta em cheio o range de quem agride pré-flop. Afinal, há muitas combinações de Ases no range de open raise. Então, esse seria um bordo que acerta muito mais o range que representamos (como agressores) do que o range do vilão (como passivo).
 
Se optarmos por apostar aqui, há poucas mãos piores que a nossa que dariam call. Isso porque, como disse anteriomente, não há muitos Ases no range do vilão, além do fato do A acertar mais o nosso range que o dele.
 
Dito isso, podemos concluir que a cbet aqui não funciona como aposta por valor.
 
Se apostarmos por blefe, temos que fazer com que mãos melhores foldem, o que também não parece funcionar bem, já que as poucas combinações de Ases melhores que 8 não foldariam, muito menos as trincas.
 
Ou seja, apenas as mãos que já estamos ganhando foldariam. Então, também não serve como uma aposta por blefe.
 
Resumindo: a aposta aqui não tem sentido, por isso, devemos optar pelo check. Dessa forma, conseguimos manter um range fraco na mão e induzir o vilão a errar nas próximas streets, como blefar.
 

Espero que este artigo ajude o leitor e a leitora a repensar suas continuation bets. Não devemos faze-la de maneira automática, como um robô. É preciso ter um plano bem elaborado para o restante da mão. E lembre-se: não é vergonhoso desistir de um pote quando avaliar que o bordo ajuda muito mais o oponente que você, mesmo sendo o agressor. Se jogar corretamente, dificilmente será explorado por isso.

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