domingo, 15 de setembro de 2019

Ranges de Mãos


Pensar em Ranges de Mãos pode melhorar seu Jogo de Poker




Por Arved Klöhn / Daniel Fidalgo

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Qual é a sua opinião sobre seu adversário? Como deve atuar quando está numa mão? Fique a conhecer as vantagens de colocar o seu adversário num range de mãos.

Neste artigo, Arved Klöhn vai ensinar o que é um “range” no poker e como eles o podem ajudar no seu jogo e melhorar seus resultados nas mesas.

Você já alguma vez viu o filme “Rouders”? De certeza que sim. É um grande filme. Se você nunca o viu, deveria de o fazer.

Existe uma cena impressionante em particular neste filme, quando o personagem principal Michael (interpretado por Matt Damon) interrompe o jogo caseiro do seu professor para lhe entregar alguns trabalhos.

Segundos depois de ver as expressões faciais de cada jogador na mesa ele diz o que cada um tem nas mãos.

Bem, Michael é um prodígio no poker e apenas KGB o pode parar no seu caminho para a fama.

Isso é o que os prodígios do poker e jogadores profissionais de poker fazem certo? Lêem as mentes e sabem exatamente as mãos de seus adversários. Esse é o seu dom?

Mas só que não, não é. Ler as mentes não funciona, somente em filmes.

O Rouders é um filme excelente, mas é ficção. E a forma como o protagonista lê as mãos também é ficção.

Nenhum jogador de poker é assim tão dotado ao ponto de saber as cartas exactas do seu adversário. E tentar fazê-lo é normalmente fútil e prejudicial para o seu jogo. Vamos analisar uma simples mão e ficar a perceber porque a leitura da mente não funciona:

Como não ler as mãos

Estamos a jogar $1/$2 Texas Hold’em e temos na mão par de dez (ThTs) numa posição intermediária. Depois de alguns folds, abrimos o pote com um raise para $6. Apenas o jogador do botão dá call. Estão agora $15 no pote e nós vamos ver o flop:




Somos os primeiros a falar e apostamos $12 com o nosso par de mão. O nosso adversário sobe para $40 e nós temos um stack de $182 para trás. O que fazemos agora?

Bem, nós de certeza que estamos numa posição complicada. Temos uma boa mão, mas não assim tão boa e existem muitas cartas no turn que não vamos querer ver (qualquer carta de paus, qualquer carta igual ou superior a valete).

Também não queremos ser blefados e não queremos perder o nosso stack caso o jogador tenha melhor mão que nós. Então vamos tentar colocar o nosso adversário numa mão. Aqui ficam algumas formas de como pode funcionar:
- Nosso adversário é muito conservador, então ele tem uma trinca e nós estamos batidos
- Nosso adversário é muito agressivo e certamente apenas tem um flush draw
- Nosso adversário é um jogador fraco e apenas tem o o maior par da mesa
- Nosso adversário joga sem medo e decerto que tem uma mão com um ás e apenas nos quer assustar da mão

Qualquer uma destas hipóteses parece boa se você conhecer muito bem seu adversário. Mas na realidade são terríveis mesmo que você conheça seu adversário perfeitamente.

Coloque o adversário em todas mãos possíveis de uma vez

Então o que estava mal com o raciocínio anterior? O problema é que estávamos a tentar colocar nosso adversário numa mão em particular.

Coloque-o em todas as mãos possíveis

Sim, no final de contas ele apenas está a jogar uma mão. Mas neste momento não sabemos que mão ele tem.

A menos que ele nos mostre suas cartas, nós não temos a certeza que cartas são. Então porque agimos como se tivéssemos um dom mágico de ler a sua mão? Simplesmente não conseguimos nem deveríamos tentar fazer isso!

Quase nunca temos informação suficiente para saber a mão exata de nosso adversário e existe uma grande possibilidade de estarmos muito enganados com a nossa leitura.

Nós iremos parecer insensatos (e perder muito dinheiro) se pensarmos que o nosso adversário tem um flush draw e ele nos tiver dominando com uma trinca.

Então o que fazemos em vez de colocarmos o nosso adversário numa mão específica? É bastante simples, nós colocamos ele em todas as mãos possíveis.

Pode parecer um pouco descuidado mas na realidade é muito mais sensato e confiável do que o colocar numa só mão.
Provavelmente não tem um par alto

Vamos aplicar alguma lógica

Vamos voltar ao exemplo anterior e aplicar alguma lógica para sabermos o que o nosso adversário tem nas mãos. Antes de sua ação na mesa, não sabemos nada sobre sua mão, então qualquer possibilidade é real.

Existem 1,326 mãos iniciais no Texas Hold’em. Mas uma vez que nós temos duas cartas (ThTs) ficamos apenas com 1,225 combinações possíveis para o nosso adversário. Antes de sua primeira ação na mesa ele pode ter qualquer uma destas mãos.

São muitas combinações a ter em conta, mas felizmente podemos retirar muitas delas desse leque (quase todas) depois da sua primeira ação.

Qual foi a sua primeira ação? Então, ele deu call ao nosso raise pre-flop. Agora vamos pensar que mãos ele pode ter para fazer isso.

Para manter as coisas simples, vamos assumir que ele é um jogador direto e que não esconde as melhores mãos em pré-flop. Neste caso podemos eliminar uma grande quantidade de mãos iniciais.

Este tipo de jogador não iria dar call a um raise pré-flop com 7-2 ou T-3. Depois da sua ação o nosso oponente terá na maioria das vezes uma das seguintes mãos: um par de mão, duas cartas altas ou algumas cartas médias conetadas do mesmo naipe.

Ele não deve ter um par de mão alto, porque nesse caso ele iria fazer re-raise pré-flop.

Vamos analisar todas as possíveis mãos

Já sabemos algumas coisas sobre a mão do nosso adversário. A sua ação no flop (em que apareceu 8c7c2d) diz-nos ainda muito mais.

Ele subiu a nossa aposta e ameaçou jogar para o stack. Vamos ver com que mãos ele poderia ter para nos subir a aposta:
- Uma trinca (88,77 ou 22)
Dois pares (87 do mesmo naipe – todas as outras variantes de dois pares ele teria desistido pré-flop)
- Qualquer par alto (99, TT, JJ – Ele subiria qualquer par acima de QQ em pré-flop)
Um projeto de flush
Um projeto de sequência (T9 ou 65 suited)
Um bluff

Com outras mãos ele teria dado call ou apostado (por exemplo com 98 para par alto) ou simplesmente desistido (com todas as mãos desemparelhadas com flush draw).

Dependendo do que conhecemos do adversário nós poderemos estreitar estes leques ainda mais. Para um jogador direto, podemos quase eliminar a possibilidade de bluff nesta situação – ele teria situações melhores para fazer isso.

Agora em vez de tentarmos decidir qual destas mãos o nosso adversário tem nesta situação, e jogar de acordo com essa leitura, nós vamos colocá-lo em todas essas possibilidades de uma só vez e tentar jogar de uma forma que funcione bem contra a maioria dessas mãos iniciais.

Pensa em ranges de mãos

O que fizemos até agora foi estabelecer um range de mãos para o nosso adversário. Agora só temos que descobrir como jogar contra esse range.

Vamos contar e fazer alguns cálculos de equidade para vermos como o nosso par de 10s joga contra cada uma das mãos possíveis do range do nosso adversário (lembre-se que nós temos um par de 10s num flop com 8c7c2d):





Esta tabela mostra o range completo de mãos para o nosso adversário nesta situação específica e a nossa equidade contra cada possibilidade.

Podemos ver de uma forma direta que estamos muito atrás contra trincas, dois pares e valetes. Que estamos quase em coin flip contra flush draws e projetos de sequência. Apenas somos favoritos contra par de noves.

Ao sabermos isto, é bastante simples saber qual a decisão a tomar: simplesmente fazer fold. Não precisamos de saber o que o nosso adversário tem nas mãos.

Basta saber que existem mãos suficientes neste range que nos ganham e poucas mãos em que estamos à frente. Até contra os projetos (que são semi-blufs no flop) quase que não estamos à frente.
Será “pensar em ranges” assim tão importante?

Esta probabilidade é de 42%. Não somos favoritos para ganhar esta mão e podemos desistir sem qualquer problema.

Porque é importante pensar em ranges

Demoramos algum tempo e fizemos algum esforço para desenvolvermos um range de mãos para o nosso adversário neste exemplo.

Será que isto de “pensar em ranges” é assim tão importante e você tem que pensar assim tanto em ranges para se tornar um bom jogador de poker?

A resposta é simples: Sim, é muito importante. Você deve começar a trabalhar suas capacidades de ler ranges o mais rápido possível e praticar muito. Isto vai melhorar seu jogo drasticamente.

Vamos voltar atrás ao nosso exemplo e tentar adivinhar a mão do nosso adversário.

Se o colocarmos numa mão fraca (como um par pequeno) queremos que coloque todas as suas fichas na mesa. Mas se colocarmos nosso adversário numa grande mão (como uma trinca) não queremos colocar dinheiro no pote.

Se sua leitura estiver enganada, nossa jogada será também desastrosamente errada. Um pequeno erro na nossa leitura pode levar-nos a consequências infelizes.

Mas se pensarmos em termos de ranges isto não se aplica. Mesmo que você não esteja 100% correto ao colocar o seu adversário num range, não deve estar muito enganado. Esquecer-se de algumas mãos ou colocar mãos a mais no range não altera assim tanto a probabilidade geral de ganhar a mão.

Pode subir ou descer uns 5% mas de uma forma geral a nossa jogada não irá se alterar mesmo que existam alguns erros na concepção do range. Pequenos erros não vão levar a consequências graves.

Quando você pensa em ranges, basicamente você está tentado saber como jogar contra a média de seu adversário. Quantas mais opções de ganhar você tiver, mais inclinado deve ficar para colocar seu dinheiro em jogo. Quanto menos opções tiver de vencer, mais inclinado deve ficar para desistir de sua mão.

É muito simples. E é por isso que todos os profissionais de poker pensam em ranges. Você também o deveria fazer!

Não é complicado tomar essas decisões no momento?

É bastante óbvio que você não pode pensar sempre em toda esta análise durante uma mão.

Mas os bons jogadores de poker são bastante bons neste tipo de raciocínio, a saberem o range do adversário em segundos e a realizar cálculos de equidade contra estes ranges.

Praticar isto fora das mesas é uma boa forma de dominar os ranges. Isto permite que você faça cálculos rápidos e a analise o range de forma bastante acertada, o que normalmente é o suficiente para tomar uma boa decisão quando joga.
Seja um profissional

Aqui ficam alguns conselhos de como melhorar sua capacidade de leitura de ranges de mãos:
- Não é necessário saber detalhadamente todas as mãos possíveis. Normalmente basta saber contra quantas mãos somos realmente favoritos, contra quantas estaremos a perder e contra quantas estaríamos num coin flip.
Não é necessário saber as probabilidades exatas, ter uma ideia geral é suficiente
Habitualmente os ranges são muito sólidos. Assim mesmo que você cometa alguns erros quando está estimando-os, não irá modificar o resultado final em demasia.
Os ranges podem ser usados em praticamente todas as decisões durante uma mão. Por exemplo, nos bluffs. Se você estimar que 60% do range do seu adversário não poderá dar call a uma aposta de tamanho razoável (talvez porque tem muitos draws falhados em sua mão) um bluff é muito proveitoso.
Os ranges requerem muito esforço. Os jogadores profissionais despendem muito tempo treinando suas habilidades em estimar ranges e percentagens para que possam usar este conhecimento e técnica nas mesas

Seja um profissional

A capacidade de frequentemente e rapidamente pensar em ranges é uma das imagens de marca de um bom jogador de poker – não é a capacidade de ler mentes como aparece nos filmes.

Normalmente quando você vê um jogador fazer calls incríveis ou folds na TV, e os apresentadores atribuem essas ações a fantásticas leituras de mão, você está a testemunhar um jogador profissional exercendo grande capacidade de leituras de ranges ou a um jogador ignorante a ter sorte depois de uma má decisão.

Podem parecer o mesmo, mas o jogador profissional vai estar certo muito mais vezes que o jogador ignorante.

Seja esse jogador profissional e pense em ranges de mãos!



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