quarta-feira, 21 de agosto de 2013

As Diferenças Entre Você e um Pró

As Diferenças Entre Você e um Pró
Quando o discurso “Poker é Jogo de Habilidade” e seus resultados não batem


Por André Akkari para a Revista Flop

E aí Flopeiros, beleza? Resolvi, nesta coluna, dar algumas dicas para as pessoas que realmente sentem que o poker é um jogo de habilidade, sabem que os mesmos jogadores frequentam sempre as mesas finais, defendem este discurso nas discussões de família e nos botecos da vida, mas acabam não tendo resultados positivos no longo prazo.
O primeiro ponto a ressaltarmos de por que isso acontece é o seguinte: você defende esse discurso com veemência porque simplesmente ama este jogo.
Portanto, não se sinta culpado, ou agindo com falsidade, apenas porque você defende com unhas e dentes o poker.
Com certeza você assimila e também briga por este discurso porque é inteligente e entende que a sorte não é o fator preponderante do jogo.
Porém, daí até conseguir executar nas mesas todos os segredos dos profissionais há uma longa distância. Portanto, cabe a você apenas entender o porquê deste hiato entre discurso e prática acontecer.

Vou tentar ajudá-los a entender e buscar uma saída para isso, usando experiências próprias, acumuladas na minha curta carreira.
Existiu um momento em que, definitivamente, o meu conceito em relação a saber por que este jogo é de habilidade mudou, e isso foi logo no começo da carreira.
Não que lá em 2006 eu tivesse toda a experiência e conhecimentos que tenho hoje, mas esta ocasião foi um ponto importante, pois com muito estudo e horas dedicadas ao poker, uma cortina nova na concepção do jogo se abriu para mim.
Na hora eu descobri que era mais lucrativo ganhar fichas com estratégias de ação, do que com cartas, e estratégias com cartas.
Em um primeiro momento, isso pode parecer ridículo, mas confiem em mim: não é!
Não estou falando daquela história de jogar as pessoas e não as cartas – sei que a grande maioria das pessoas que estão lendo este artigo já tem um nível mais avançado de poker para saber disso –, eu digo em relação às estratégias de ação na mesa, comparadas às estratégias que tenham algum tipo de relação com cartas.

Quando você inicia um processo de busca por caminhos na mesa de poker, para subir o seu stack simplesmente ignorando quais cartas você está recebendo, 80% das perguntas que vêm à sua cabeça são:
♣ Quem são os caras que limpam e foldam na mesa?
♥ Quem são os que, na maioria das vezes, foldam para continuation bet?
♦ Quem são os jogadores que, quando sobem três vezes o valor do big blind, foldam para 3-bet?
♠ Quem são os caras que gostam de roubar blinds de UTG?
♣ Por que todas as vezes que aquele fulano é BB aquele outro sobe no blind dele?

Perguntas como estas foram aparecendo na minha cabeça e, de repente, eu percebi que essas coisas faziam muito mais sentido do que eu olhar as minhas cartas e pensar: “Bem, agora que tenho AJ, como vou jogar nessa posição?”.
Este foi o ponto de encontro principal entre o meu discurso de poker sendo um jogo de habilidade e os meus avanços cavalares para resultados positivos em torneios multitable.
Tudo isso faz parte de um processo, um grande e tortuoso processo, de achar primeiramente essas perguntas e, depois, achar as respostas corretas para elas.
Caso você ainda não esteja se fazendo essas questões de forma exaustiva em uma mesa de poker, passe para um nível acima do jogo: este é o jogo profissional.
Essas perguntas, e mais algumas, parecidas, fazem parte da rotina de qualquer jogador lucrativo e vencedor, que é a prova viva de que o poker é habilidade.
Agora, caso você já esteja dominado por elas, mas mesmo assim não encontra com facilidade a lucratividade tão sonhada, você faz parte de outro grupo: o grupo dos quase lucrativos.

Você está na cara do gol para viver de poker, mas não consegue. O que precisa fazer?
No momento em que estava assim na minha carreira, eu tinha uma mistura de cópia dos pensamentos adotados pelos grandes profissionais que eu admirava, com uma ousadia, coragem e criatividade de executar minhas próprias ações, corretas ou equivocadas, sem ligar para o resultado financeiro que elas pudessem trazer naquele momento.
Eu gastava horas e horas assistindo os vídeos dos profissionais nas escolas online, porém, naquele momento, já os assistia com outra visão, com a visão de quem sabia que existiam estas outras ferramentas lucrativas, mas procurava um porquê para cada uma delas.

Em centenas de vídeos que assisti no Poker XFactor, eu simulava, antes de ver o resultado das mãos, quais seriam as minhas próprias ações.
Antes de o Johnny Bax dar o seu discurso sobre aquela mão, eu acionava o meu modo exercício e tentava fazer do meu jeito.
Marcava em um papel o que eu faria, sem ouvir o som dos instrutores.
Nos primeiros vídeos, o resultado era algo desastroso. Eu parecia um lunático procurando pelo em ovo, ou então um maníaco que agredia toda e qualquer ação na mesa.
Mas, com o tempo, a distância entre o que eu falava e o que eles executavam foi diminuindo e, como em um passe de mágica, tudo foi acontecendo.
Neste ponto, o meu inglês ainda era bem fraco. Eu ainda tinha esta barreira, mas, mesmo assim, conseguia achar as soluções práticas para cada um dos casos.

Passado mais um tempo, eu comecei a contestar muitas das mãos jogadas pelos profissionais, e passei procurar o meu próprio caminho, depois de estudar todo aquele conteúdo.
Aí sim vem o momento mais complicado: treino é treino, e jogo e jogo.
Portanto, o seu último desafio é ter coragem e disciplina para, de vez, abandonar as cartas e executar toda aquela história que incansavelmente você vinha estudando. Neste momento você vai encontrar várias barreiras, mas o jogo vira outra coisa, outro desafio.
É uma batalha completamente diferente daquela que você achou que estivesse enfrentando.
Ela é quase uma batalha sua contra você mesmo.
Espero que todos vocês alcancem estes objetivos, ultrapassem estes obstáculos e consigam, de fato, alcançar esta lucratividade.
Assim, poderão falar o discurso de que poker é um jogo de habilidade batendo com mais força no peito.

Um grande abraço a todos!

André Akkari
Vencedor de um Bracelete da WSOP

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