terça-feira, 13 de outubro de 2015

Expansão do Poker no Brasil




Expansão do Poker no país gera negócios

No fim de março uma etapa do circuito brasileiro de pôquer, o Brazilian Series of Poker (BSOP), reuniu quase mil pessoas num resort em Balneário Camboriú, litoral de Santa Catarina. Foi o maior torneio da modalidade já realizado no Brasil – representando um crescimento de 25% em relação ao ano anterior. Foram distribuídos pouco mais de R$ 2 milhões em premiações aos primeiros colocados.

A exemplo do que já ocorre com outros esportes populares nos Estados Unidos, essa modalidade de jogo de cartas atrai cada vez mais participantes no país e abre uma janela para diferentes tipos de negócios, apesar da insegurança jurídica. Especialistas divergem quanto à legalidade do pôquer. Uma lei de 1946 proíbe jogos de azar, mas quem disputa a modalidade alega que o jogo é de habilidade, quase nada tem de sorte, e portanto está longe de ser classificado como contravenção penal.

Marcas de roupas e acessórios, baralhos especiais e até escolas especializadas em ensinar pôquer são alguns dos exemplos de negócios que surfam no crescimento do jogo no Brasil. “Os eventos acabam criando uma cadeia produtiva. A mesa tem um formato diferenciado e há marcenarias especializadas nisso. Também foram criados portais de notícias voltados para esse mercado, há diversas necessidades que os campeonatos geram”, disse o diretor do BSOP, Devanir Campos.

Uma das empresas que apostam nesse nicho é a Riverstyle, loja de roupas e acessórios oficial do campeonato, que praticamente dobrou de tamanho no ano passado e, apenas no mercado virtual, cresceu 40%. A marca foi criada em 2011 por Caio Pesagno, um jogador de pôquer que abandonou o curso de administração para tentar a carreira profissional.

A busca de jogadores por aprimoramento fez com que André Akkari abrisse uma espécie de escola de pôquer. O local, no interior de São Paulo, funciona como uma academia onde jovens promissores estudam e participam de um grupo patrocinado pela própria unidade, no qual são obrigados a dividir até metade dos lucros obtidos nos torneios.


Além disso, o chamado Team Akkari cobra quase R$ 3 mil para que jogadores amadores passem um final de semana em um hotel entre os profissionais. Na primeira turma, 300 se inscreveram para entrar na classe de 30 alunos, afirmou Akkari, que já conquistou títulos de expressão mundial.

A insegurança jurídica, no entanto, afasta grande parte dos investidores. O professor de direito penal da Fundação Getulio Vargas (FGV) no Rio André Mendes cobra uma regulamentação do pôquer: “Quanto menos regulação, controle e fiscalização, mais difícil saber para onde vai esse dinheiro”. Um dos riscos da expansão do jogo sem regras é favorecer a lavagem de dinheiro, como ocorria nos bingos, completa o advogado criminalista e sócio do escritório Leite, Tosto e Barros Advogados, Maurício Silva Leite.

Há divergência sobre a legalidade do jogo também nas justiças estaduais, segundo o professor da FGV. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, houve sentenças proibindo campeonatos. “Há uma lacuna que acaba gerando alguns problemas. Ao mesmo tempo que não há uma proibição expressa, se entende que o jogo é de habilidade, logo o pôquer é um jogo lícito”, afirma André Mendes. “O que é proibido é a aposta, não o jogo propriamente dito”, completou.

A primeira edição do BSOP ocorreu em 2006 e reuniu pouco mais de 40 participantes, uma competição pequena demais para conseguir atrair qualquer tipo de apoio. Na última, foram quase mil inscritos, cada um pagou R$ 2,6 mil para entrar no torneio. “Os patrocínios começaram a surgir mais recentemente, como reflexo da popularidade do pôquer. Agora o BSOP tem dois patrocinadores principais e alguns apoiadores esporádicos”, contou o diretor do torneio, Devanir Campos.

Segundo o chefe do campeonato, apenas em 2014, o BSOP pagou R$ 7 milhões em impostos. Renata Teixeira abandonou o escritório de design gráfico que comandava para jogar pôquer: “Paguei 27,5% de imposto nas premiações que recebi no Brasil”, conta. “O esporte que eu jogo não é proibido”, disse a jovem de 28 anos.



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