segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Balanceamento do Range


Balancear ou Ser Explorável?



Por Ivan Santana

Fala, pessoal!

Esse artigo eu escrevi para a CardPlayer, saiu na edição do mês de Agosto, e resolvi trazer aqui pra vocês.

Comentarei sobre um assunto no poker que muitos menosprezam, mas muitos também superestimam: o balanceamento do range.

Balancear range é, a grosso modo, fazer uma estratégia equilibrada em que certa situação você vai ter uma quantidade de blefes e mãos por valor que não deixem o oponente explorar o seu jogo.

Muitos jogadores não entendem a importância disso. Se você em certa situação apenas faz uma aposta por valor (digamos, apenas abre do UTG com AK, AA, KK e QQ), e os oponentes percebem isso, eles podem jogar de forma ótima contra você. Neste caso, um oponente pode desistir facilmente de mãos como AQ e pagar, caso tenha odds, apenas com mãos como pares baixos e cartas conectadas baixas, sabendo exatamente o tipo de mão que está enfrentando e que se acertar um jogo forte pode ganhar um pote imenso.

Outro exemplo seria quando chegamos ao river e completa um flush no board, vamos apostar apenas quando temos o flush ou também vamos blefar? Com qual frequência? E se decidirmos apostar apenas quando tivermos o flush, seria explorável, mas isso é um problema? O oponente pode não saber disso! Afinal, quando devemos ou não se preocupar em balancear o range?

Bom, em primeiro lugar, balancear range está diretamente ligado ao histórico que temos ou teremos com os oponentes na mesa. E não entender isso é um erro bem comum. Várias vezes eu vejo em torneios um jogador comentar: “aumentei pré-flop, apostei no flop e dei um check/raise no turn blefando ele porque eu faço quando tenho valor também e ele tem que desistir”, ou “blefei o river para equilibrar meu range com as mãos de valor que eu tenho”. O problema desse comentário é que em torneios (ainda mais torneios ao vivo), você não tem histórico grande suficiente com o adversário para se preocupar em equilibrar o range, mesmo aqueles adversários que jogam sempre o mesmo torneio que você.

Em um torneio devemos pensar muito no momento e não em balancear o range. Bons jogadores de torneio sabem bem disso. Como as mesas de torneios são sorteadas, cada situação em um torneio costuma ser única, ainda mais as situações mais importantes de reta final. Mesmo contra os jogadores que você costuma jogar, é difícil cair toda hora na mesma mesa, mais difícil ainda em situação parecida, sendo que a fase do torneio pode ser diferente (começo de torneio, bolha, mesa semi-final, mesa final), a dinâmica da mesa também e os stacks envolvidos também. Fora tudo isso, ficar em uma situação parecida de jogo contra o oponente (board parecido, apostas em outras streets) também vai ser muito raro para você ter que se preocupar em balancear. A exceção é para ações pré-flop, já que essas são mais comuns. Aí sim é interessante ter um range equilibrado, pois com poucas mãos jogadas é possível perceber algum padrão de agressividade/passividade ou de quão tight/loose você está jogando.

Em cash games o buraco é mais em baixo. Aí sim temos uma necessidade maior de balancear o range para situações pós-flop, pois enfrentamos os mesmos oponentes com uma frequência muito maior, principalmente em mid/high-stakes (que não há tantas mesas online) ou em um jogo ao vivo que são os mesmos jogadores que costumam jogar.

Para vocês terem ideia, quando filtrei meu banco de dados com 300 mil mãos de torneios procurei os jogadores que eu mais enfrentava, e tinha cerca de 1500 a 2000 mãos deles. Quando filtrei meu banco de dados de cashgame com as últimas 300 mil mãos eu encontrei jogadores que tinha mais de 50.000 mãos jogadas contra. Ou seja, aprender a não ser explorável contra eles e estudar as falhas do jogo deles é importantíssimo para maximizar a lucratividade.

Assim sendo, jogadores de cash costumam traçar estratégias pós-flop bem mais detalhadamente, principalmente em limites mais altos. Eles buscamm jogar perto do GTO (game theory optimum), ou seja, uma estratégia não-explorável, pensando em não adotar uma linha exclusivamente por valor ou blefe contra os oponentes que mais enfrentam.

Um exemplo para entender essa diferença de momento para contra balancear o range é quando o jogador paga no big blind e o board vem KT4 rainbow. Um jogador de cashgame analisa antes esse tipo de board e já tem um plano em quais tipos de mãos ele vai de check/call, check/fold, check/raise e quais vai dar lead (se existem mãos que ele da lead ou c/raise por exemplo). Se ele decide ter um range de mãos que vai jogar esse board de forma agressiva, ele normalmente coloca alguns blefes (como J9s por exemplo) com as mãos de valor (KT, 44, as vezes até KQ/KJ). Já o jogador de torneio ou mesmo o jogador de cash quando enfrenta um jogador que não terá muito histórico deve pensar apenas no momento. Dado o range, o oponente, nosso range na visão do oponente qual a melhor jogada e ponto. Vai ter situações que não vão valer a pena blefar nunca e situações que uma aposta só será boa se for por valor.






Um jogador de torneio que eu admiro muito por saber interpretar o momento muito bem é o Alexandre Gomes, enquanto que vários jogadores de cash sabem muito bem definir estratégias vencedores pós-flop como o Diógenes Malaquias, Leonardo Roqueiro, Leonardo Bueno, Marlon “Sphinter” entre outros.
Cheers!

Fonte: IvanRoyal



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