A Primeira Seleção Brasileira de Poker!!!
Nas salas dos sites de pôquer na internet e nos torneios ao vivo pelo mundo, uma palavra de incentivo já ficou consagrada pela torcida brasileira, sempre que há um brasileiro na disputa: “Vamô!”. Foi com gritos de “Vamô!” que o paulistano André Akkari foi saudado em junho deste ano como novo campeão do World Series Of Poker, um dos mais importantes torneios do mundo, depois de vencer 2.857 jogadores. Seu prêmio foi o bracelete do evento e cerca de R$ 1 milhão.
O próximo desafio de Akkari será diferente, e inédito na história do pôquer mundial. Pela primeira vez, o prêmio em jogo será para o país, e não apenas uma conquista pessoal. Entre 17 e 20 de novembro, será realizado em Londres o primeiro campeonato mundial do jogo de cartas mais popular na atualidade. O evento, disputado entre seleções nacionais, é a última exigência da International Mind Sports Association (IMSA), filiada ao órgão máximo dos esportes no mundo, o Sport Accord, para o reconhecimento do pôquer como um “esporte da mente” ("mind sport", em inglês), ao lado de xadrez, damas, bridge e go. A Federação Internacional de Pôquer (IFP) já entregou os documentos de filiação necessários e já formou o número mínimo de confederações internacionais.
O Brasil terá papel de destaque nesse processo histórico, e o “Vamô!” da torcida brasileira será tão importante quanto o incentivo à seleção de futebol em uma Copa do Mundo. O país foi um dos seis escolhidos para levar uma seleção completa, com seis jogadores. Os outros são Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha, Rússia e China.
O primeiro dia terá a competição entre as seleções nacionais, e as mesas serão disputadas na London Eye, uma das mais belas rodas gigantes do mundo. No segundo dia, representantes de dezenas de países do mundo – e não só os seis da competição entre equipes – disputarão um campeonato individual, nos moldes dos principais torneios do mundo. A diferença é que cada jogador será um atleta representando seu país.
A escolha de Londres não foi à toa. A IMSA, que regula os esportes da mente, realiza uma competição mundial no país sede das Olimpíadas. O primeiro foi em Pequim, em 2008, logo depois dos jogos de verão. No próximo campeonato da IMSA, depois dos Jogos Olímpicos de Londres, o pôquer já deve estar incluído.
A estrutura do campeonato de pôquer - intitulado The Table ("A Mesa") - será semelhante a das disputas entre países na ginástica olímpica. Na primeira parte de uma competição nas Olimpíadas, por exemplo, os atletas de cada país competem pela medalha por equipes. Depois, cada um dos atletas disputa medalhas em cada aparelho. Essa segunda parte é uma disputa individual, mas a medalha é para o país de origem do atleta.
Marcos Sketch |
Igor Federal |
O time brasileiro é capitaneado por André Akkari e Alexandre Gomes, os dois únicos brasileiros detentores de braceletes do World Series of Poker (WSOP). Gomes também foi campeão World Poker Tour (WPT), outro importante torneio mundial, em 2009. Os dois foram convidados pelo presidente da Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH, órgão máximo do esporte no Brasil, como a CBF para o futebol), Igor “Federal” Trafane, para ajudarem a escolher o restante da equipe. No dia 25 de outubro, foram anunciados os últimos cinco jogadores: Christian Kruel, Thiago “The Decano” Nishijima, Felipe “Mojave” Ramos, Caio Pimenta e a única mulher do grupo, Daniela Zapiello. O time será treinado pelo jogador Marcos Sketch, considerado um dos maiores estudiosos brasileiros do pôquer.
“Acho que consegui sentir o mesmo que o Neymar quando foi convocado pela primeira vez. A ficha demorou um pouco pra cair”, afirmou Thiago “The Decano”, por e-mail. “É uma das maiores realizações de minha carreira. Apesar do pôquer ser um esporte individual, o Mundial resgata em sua essência o patriotismo e a vontade de levar a bandeira de seu país ao topo do mundo”, disse o jogador. “The Decano”, entre outras conquistas importantes, foi o primeiro brasileiro a vencer o WCOOP, maior campeonato mundial de pôquer online, em 2009.
A estrutura do torneio entre seleções – a primeira parte do campeonato mundial – será diferente do que normalmente acontece em campeonatos individuais pelo mundo, como o WSOP e o WPT. A principal diferença será o estilo de pôquer jogado na disputa entre as seis seleções nacionais: o Texas Hold’em Duplicado. Na prática, é uma modalidade que exclui completamente o “fator sorte” do pôquer, presente em quase qualquer esporte praticado no mundo.
Cada mesa terá um representante de cada seleção, e nenhuma mesa terá contato com as outras. Os baralhos serão preparados antes, de modo que todos os jogadores joguem as mesmas mãos. De forma simplificada, se o jogador brasileiro tiver uma mão com Ás de copas e 10 de paus, por exemplo, nas outras mesas um jogador de cada seleção adversária terá jogado a mesma mão. Os pontos são dados para quem jogou-a melhor. Somados os pontos, temos o país vencedor.
Uma das células da London Eye, roda gigante em Londres que sediará o primeiro torneio entre seleções do pôquer mundial (Foto: Julian Herzog) |
A segunda parte, a disputa individual, será nos moldes dos principais torneios do mundo. O estilo será o Texas Hold’em, popularizado em programas de TV e em mesas virtuais pela internet. Nessa modalidade, o fator sorte existe, mas o mais importante continua sendo a habilidade.
O jogador de pôquer precisa ter técnica para imaginar as cartas dos adversários e intimidá-los na hora certa. Se fizer uma aposta e os adversários não tiverem “coragem” de aceitá-la, ele ganha sem precisar mostrar as cartas. O estudo mais completo feito sobre o assunto, da empresa americana de software Cigital, analisou 103 milhões de rodadas de pôquer on-line jogadas em dezembro de 2008 no site Pokerstars. Concluiu que em 76% das rodadas o vencedor ganhou sem precisar mostrar as cartas. Em 12%, os jogadores chegaram a mostrar as cartas, mas quem tinha o melhor jogo no início da rodada já desistira de acompanhar as apostas. Só em 12% dos casos o vencedor tinha as melhores cartas e as mostrou. Esses números revelam que a sorte nas cartas é um fator que pouco influi no resultado do jogo.
O campeonato mundial e o reconhecimento do pôquer como jogo da mente, ao lado do xadrez e bem longe do bingo e da roleta, é também uma chance para os atletas brasileiros quebrarem o preconceito contra a profissão. “Amo o meu país, e é uma honra poder vestir a camisa e representá-lo mundo afora”, disse por e-mail a representante feminina da seleção brasileira, Daniela Zapiello. “No Brasil existia um certo tabu que, aos poucos, está sendo quebrado. Esse evento terá uma importância gigantesca para mostrar ao público que o pôquer não é um jogo de azar, e, sim, de estratégia. Que é um jogo para todos, independentemente do sexo ou idade”, afirma Daniela.
Fonte: Revista Época
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