segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Lacuna de uma Carreira de Poker


Seguindo as notícias sobre o holandês detentor de duas braceletes Dutch Boyd andar a lutar para conseguir um emprego de salário mínimo, o Barry Carter pergunta se a vida como jogador profissional de poker é um grande custo de oportunidade?

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Dutch Boyd
Recentemente, lançámos uma notícia sobre a antiga estrela de poker Dutch Boyd que tem passado tempos difíceis (em inglês). Apesar de ter ganho mais de $2,2 milhões em torneios ao vivo, duas braceletes, ter fundado um dos primeiros sites de poker online e ter concluído um curso com apenas 15 anos de idade, Boyd foi recusado para um emprego de salário mínimo.

Grande parte da comunidade de poker acha que isto é carma para o Boyd, que viu o seu site de poker PokerSpot fechar ficando a dever cerca de $400.000 aos jogadores de poker, valor que nunca foi pago até hoje.

Quer aches ou não que ele merece o que lhe está a acontecer, o cenário em que Boyd se encontra é um dos mais apavorantes que um jogador de poker profissional possa imaginar - estarem falidos, fora do jogo, com dificuldades em arranjar emprego e a pensar se perderam os melhores anos das suas vidas.

Isto acontece a toda a hora, a jogadores de poker e também, como é óbvio, a pessoas com outras carreiras. Boyd é apenas um exemplo perfeito deste cenário. Também tivemos outro bom exemplo, o caso dos jogadores de poker após a Black Friday, que não só perderam as bancas como também viram desaparecer a única maneira que tinham de fazer dinheiro no futuro.

Existe uma pequena percentagem de pessoas que se estabeleceram para o resto da vida através do poker. Mas, para a maioria dos jovens jogadores que encaram o jogo como uma profissão, será o poker um grande custo de oportunidade?


Custo de oportunidade
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O durrrr provavelmente já não
atualiza o seu CV há muito tempo
Devo dizer que temo pelos jovens para os quais o poker tem sido o único trabalho desde sempre. O poker online já cá anda há tempo suficiente e agora existem muitos jovens que optam por uma carreira profissional de jogador de poker logo após o ensino superior, sem nunca terem tido um "emprego real".

Se nasceste para jogar poker e és muito bom, então, isto não é um grande problema. Muito provavelmente, o Tom Dwan nunca vai ter que se preocupar em escrever um CV, mas o mesmo não acontece com toda a gente.

Prevejo grandes problemas para um jogador de poker que, mais tarde durante a sua carreira, acabe por se aborrecer com o jogo ou que este se torne difícil demais. Ambos são problemas bem reais neste jogo.

Todos sabemos bem o quão difícil o poker está nos dias de hoje e, embora seja difícil imaginar que se torne ainda mais duro, não existem garantias de que isso não venha acontecer. Jogadores como o Boyd, que ganharam o seu dinheiro nos dias de glória do poker, viram as suas taxas de ganhos diminuírem rapidamente ao longo do tempo.

Embora exista sempre a chance de um grande resultado estar ao virar da esquina, os jogadores profissionais de poker não devem esperar ver grandes saltos nas suas taxas de ganhos. Portanto, enquanto que o que eles ganharam nas mesas é provavelmente muito mais do que aquilo que teriam conseguido num "emprego real", pode não ser mais do que aquilo que poderiam ter conseguido, por exemplo, numa carreira de 10 anos num emprego real.

Não é com a elite dos high stakes que eu estou preocupado, já que as suas bancas, em teoria, são grandes o suficiente para aguentá-los enquanto tentam procurar uma nova vocação. São os rakeback grinders de $1/$2 e aqueles que jogam através de stacking que provavelmente deveriam pensar sobre isto com muito cuidado.

Para além do dinheiro, uma das melhores coisas do poker é a sensação de liberdade e autonomia que tu tens. No entanto, um dos maiores inconvenientes é possivelmente a falta de senso de propósito. Apesar de tudo, é uma carreira muito egoísta e eu conheço muitos jogadores que mais tarde acabaram por se desiludir com o jogo, mesmo continuando a ganhar.

Ainda pode haver grande senso de propósito numa carreira como jogador de poker, especialmente se esta incluir viajar pelo mundo, dar coaching a jogadores, apoiar a família, ser reconhecido ou tornar-se famoso. Só não é sempre um propósito tão claro como noutras carreiras, onde normalmente estás a fazer serviços para alguém ou a criar alguma coisa.

A lacuna no CV

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Será que o poker te prepara
para entrevistas de emprego?
Se eles mais tarde forem confrontados com qualquer problema e tiverem que entrar no mundo do trabalho, poderão não ter qualquer experiência de trabalho relevante, uma grande lacuna no CV deles e um potencial choque cultural quando tiverem que começar a trabalhar para outra pessoa.

Ter um patrão, levantar de manhã cedo, vestir um fato/terno - existem alguns jogadores de poker que vão ter grandes problemas para adquirir uma mentalidade de trabalho, especialmente aqueles que saíram diretamente da faculdade para o poker.

Existem outros jogadores profissionais para os quais a maior dificuldade será o simples facto de terem que trabalhar com outras pessoas, depois de terem passado grande parte do seu tempo sozinhos em frente a um computador.

Outro problema surge com o fato do currículo resumir-se apenas ao poker, é por isso que chamei de lacuna no CV, porque alguns empregadores simplesmente não vão reconhecer o poker como uma carreira.

Ainda existe um estigma em muitos cantos da sociedade onde o jogo é uma preocupação, e por cada pessoa que entende que o poker é uma escolha legítima de carreira, existem provavelmente três ou quatro que pensam imediatamente degenerado.

Mas o maior problema tem que ser apenas o puro facto deles terem gastado aqueles que podem ser considerados os melhores anos das suas vidas fora do mundo do "trabalho normal". Normalmente, é durante os vinte e tal, trinta e poucos anos de idade que adquires a experiência de trabalho necessária para assegurar um bom emprego para o futuro, que irá dar-te uma vida boa, trabalho gratificante e uma reforma confortável.

Um jogador de poker que regresse ao mundo do trabalho depois de muitos anos, terá muito para recuperar, a não ser que tenha desistido do jogo com uma grande banca.

O poker ensina competências para a vida

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Os profissionais de poker
são pequenos empresários
Existem algumas competências transferíveis que o poker te ensina, que são essenciais para encontrares o teu caminho de volta ao mundo do trabalho.

Em primeiro lugar, quer se apercebam disso ou não, um jogador profissional de poker é um pequeno empresário. Eles fazem a gestão do seu próprio tempo, da sua educação, seleção de jogos, estudo do Hold'em Manager, gestão de banca - isto são tudo exemplos de tu a desempenhares um papel eficaz de CEO da tua carreira de poker.

Isto é um grande conjunto de competências que não devem ser ignoradas aos olhos de qualquer empregador.

Existem várias carreiras onde o facto de terem jogado poker pode ser uma grande vantagem. Por exemplo, qualquer trabalho relacionado com a indústria do poker e também o trading.

Costuma dizer-se que o mundo do trading é o que melhor espelha o poker, e se este é um assunto que te interessa talvez seja uma boa razão para visitares o nosso site irmão Tradimo.

Se estás por dentro do lado estatístico do poker e coisas como o Hold'em Manager, empregos como por exemplo analista de pesquisa também poderiam ser um dos caminhos onde o poker é visto como uma mais-valia e não como uma desvantagem.

Na minha opinião, a maior competência que o poker ensina é saber lidar com a adversidade, pelo menos comigo foi assim. O poker coloca-te em situações em que estás a fazer tudo direito e mesmo assim continuas a perder umas atrás das outras.

Embora todos nós continuemos a queixar-nos das bad beats, acho que os jogadores de poker lidam melhor com os contratempos da vida do que a maioria das pessoas. O simples facto de conseguirem olhar para alguns percalços da vida como "bad beats", faz com que consigam lidar com determinadas adversidades, e olhar para elas de uma perspetiva que as pessoas fora do poker não conseguem.

Um hobby sério

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A Vanessa Selbst ainda está a
estudar para ser advogada
Quase todos os jogadores em determinado momento pensaram em tornar-se profissionais, mas depois de andar pelo meio do poker há quase uma década, posso dizer-vos que as pessoas mais felizes neste meio são aquelas que não dependem unicamente dos rendimentos do poker.

Poderem sair de uma sessão perdedora sabendo que ainda têm uma maneira de pagar as contas realmente torna a vida muito mais fácil.

Não quero com isto dizer que não devem tentar uma carreira de poker, mas sim para não queimarem todas as possibilidades. Ter uma segunda fonte de rendimento, não só te dá mais segurança como também mais opções caso alguma vez comeces a ficar aborrecido com o jogo.

Se andas a lutar para encontrar essa "segunda opção" para a tua vida, existem várias opções a considerar que, inclusive, poderão simultaneamente ajudar a tua carreira de poker.

Estudar matemática ou economia, trading, criar um negócio relacionado com o poker, dar coaching a jogadores, criar um blog, trabalhar na sala de poker de um casino, trabalhar para uma sala de poker online - estes são exemplos de coisas que podes fazer fora do poker que ajudam o teu jogo e te dão competências valiosas para outras potenciais carreiras.

Os jogadores de poker estão entre as pessoas mais inteligentes e talentosas que já conheci, e nesse sentido não me preocupo muito com a sua capacidade de serem bem sucedidos em outras áreas da vida. Bater com o pé na porta é que pode ser o grande problema.

Por Barry Carter para o site PokerStrategy

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