sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Jogadores de Poker Ganham Salário de Executivo


Jogadores transformam o Poker em
profissão e ganham salário de executivo



Estudo, disciplina e planejamento financeiro são essenciais
para quem quer ser bem-sucedido no jogo



Thiago Souza, de 26 anos, trabalhava na área administrativa de uma empresa e se preparava para fazer o vestibular quando, há seis anos, conheceu o pôquer. Em três anos ele já havia largado o cursinho pré-vestibular e o emprego para se dedicar totalmente ao jogo.

“Conheci o pôquer na televisão, assistindo alguns campeonatos. Sempre gostei de jogos online. Um amigo me passou um site em que você estudava sobre pôquer, fazia uma prova e ganhava US$ 50 para começar a jogar. Comecei e fui crescendo”, conta.

Souza diz que abandonou os projetos paralelos porque não estava conseguindo conciliá-los com a rotina de jogador. “Quando comecei, jogava pôquer ao vivo. Os torneios costumam ser à noite e de madrugada. Eu ficava até 6h jogando, voltava para casa, tomava um banho e ia trabalhar. Era muito desgastante."

Antes de largar tudo, o jogador analisou os números para ter certeza de que o pôquer seria mais lucrativo. “Demorou uns cinco, seis meses para eu começar a lucrar. No começo, você apanha mesmo. Se não perde dinheiro, fica pelo menos no empate”, diz.


Quando conversou com o iG, numa quarta-feira à tarde, Souza estava na praia assistindo um amigo surfar. “Faço meu horário e trabalho onde eu quiser, basta ter um notebook. O pôquer online tem torneiro 24 horas por dia."

Thiago Souza
Mas o jovem conta que a vida de quem joga pôquer pra valer não é tão fácil. “Tem dias que eu começo a jogar às 14h e paro só às 2h. No pôquer online, chego a ficar com 18 telas abertas. Disputo cerca de 40 torneios por dia”, conta.

Para se dar bem, ele afirma que o estudo é essencial. “Assistimos vídeos de jogadores mais experientes e também buscamos a teoria em livros e na internet. Há muita estratégia por trás de cada jogada.”

O retorno financeiro compensa. Como auxiliar administrativo, Souza ganhava cerca de R$ 1,5 mil mensais. Com o pôquer, já faturou R$ 26 mil em um mês.

Além de estudo, jogadores precisam se planejar financeiramente

Ainda que o valor seja alto, os jogadores precisam cuidar bem das finanças. O jogador Muller Mathias, de 26 anos, que começou a jogar pôquer há cinco anos, quebrou financeiramente logo após largar o emprego na área de processamento de dados para se dedicar somente ao jogo.

“No começo, você não sabe calcular seu caixa. Não dá para ter R$ 1 mil e disputar dois torneios de R$ 500. Se você se der mal, já era”, explica.

Ainda assim, o jogador não desistiu da paixão. Decidiu recomeçar com a ajuda de outro amigo no pôquer online. Disputando torneios menores, começaram a estudar e se planejar juntos.

“Também é preciso pensar que existe a variância. Tem mês que você pensa ‘nunca ganhei tanto dinheiro assim na vida’, mas tem mês que você fala ‘e agora?’. Precisa guardar um pouco para os meses ruins”, diz Muller.

Muller Mathias
O jogador também se preocupa com o futuro. Ele conta que contribui com o INSS e guarda um valor na poupança para garantir uma boa estabilidade financeira. Muller já chegou a faturar R$ 20 mil em um único mês.

Souza também poupa parte do dinheiro e pretende abrir um negócio próprio nos próximos anos. “Quero ter outra fonte de renda que não seja o jogo”, explica.

Famílias se assustam no começo, mas depois aprovam

As famílias de Souza e Muller ficaram contrariadas no início, quando ambos largaram o emprego para investir no pôquer.

“Minha mãe chegava a desligar o computador para me impedir de jogar. Minha namorada sempre me apoiou”, conta Muller.

Foi preciso muito esforço e dedicação para acalmar mães, pais e parentes.

“Eu fui mostrando os números para minha mãe e ela foi vendo que era uma coisa séria, não era um vício ou algo do tipo. Mesmo assim, minha avó e minha tia só ficaram sabendo há pouco tempo”, diz Souza.

Hoje, mesmo ficando um pouco afastado da família quando precisa participar de torneios, ele conta com o apoio de todos. “O mais gostoso para mim é ver minha mãe torcendo pra mim”, afirma.


Campeão mundial em 2011, Akkari dá dicas para jogadores

O campeão mundial André Akkari, de 39 anos, conheceu o pôquer em 2005. Sócio de uma empresa de tecnologia, era responsável pelo projeto da criação de um site do jogo. Começou a jogar na internet e, um ano depois, abandonou o empreendimento.

“Eu estava ganhando mais do que no trabalho. Conversei com a minha esposa e disse que se eu tivesse o dia inteiro para estudar e me dedicar ao jogo, poderia me dar bem. Ela foi super parceira e me apoiou”, conta.

Ainda assim, amigos e familiares ficaram preocupados. “Meus amigos chamaram minha mulher para conversar e convencê-la a me fazer tirar essa ideia da cabeça. Minha mãe veio me contar aquelas histórias do sogro do primo do irmão de não sei quem que perdeu uma fazenda no jogo”, diz.

Akkari teve de driblar o pouco conhecimento em inglês para ler o material sobre o jogo disponível à época. Em 2007, entrou no PokerStars Team Pro, grupo de jogadores patrocinados pelo maior portal de poker do mundo, o PokerStars. Em 2011, consegui o título mundial na World Series of Poker em Las Vegas, nos Estados Unidos.

Hoje, Akkari disputa o circuito mundial de pôquer em torneios em Las Vegas, Monte Carlo, Londres, entre outros.

Ele possui um centro de treinamento em Cabreúva (SP), o QG Akkari Team, em que 22 jogadores profissionais vivem e respiram pôquer o tempo inteiro. Uma vez por mês, realiza um curso intensivo de três dias aos finais de semana, aberto ao público. Os alunos pagam R$ 3,5 mil pelo pacote que inclui transporte, hospedagem, alimentação e aulas teóricas e práticas. A lotação está completa até janeiro de 2015.

“Hoje é mais fácil ser um jogador. Há centenas de escolas de pôquer. Os livros se tornaram obsoletos. Agora você tem o coach e as escolas online. Você joga e grava em vídeo o que está pensando e qual estratégia está usando a cada rodada”, explica Akkari.

Ele afirma que as principais dicas para quem quer investir na carreira é conhecê-la bem e estudar bastante. “Você precisa conversar com profissionais, treinar a estudar bastante. Um jogador profissional estuda 70% do tempo e joga 30% dele. Se você não sabe jogar, quanto mais você joga, pior é.”

A disciplina, afirma, é essencial. “Você tem de acordar, estudar, cuidar do corpo e da mente. O pôquer é um esporte mental que cansa muito, mas o corpo também é importante: você fica horas sentado jogando um torneio, pode machucar a lombar, desenvolver uma tendinite. Sem contar que, o corpo estando bem, a mente funciona melhor”, diz Akkari.


Fonte: IG Economia

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