quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Analisando a Jogada - 13ª Mão




Por MarcioCP

Hoje, a pedido do Luke, analisarei uma mão que eu joguei. A mão em especial não é uma mão extraordinária ou de grau de dificuldade elevado. Mas, escolhi essa mão por ela mostrar alguns aspectos que sempre me fazem refletir.

O primeiro aspecto é a visão que você tem de seus oponentes na mesa.
Sempre tenho alguns problemas com isso, ao jogar várias mesas ao mesmo tempo, esbarro sempre no problema fundamental de atenção aos jogadores na mesa. É difícil, porém, não impossível, dominar isso em médio prazo.
O segundo aspecto é a imagem que você passa para os oponentes na mesa.
Isso, tem sempre dois pontos fundamentais, que são, em aprofundamento, utilizar isso para tirar proveito de determinadas mãos, e/ou, em casos mais específicos e de grau maior de dificuldade, utilizar isso para escapar de mãos problemáticas.

Quantas vezes nós já não atribuímos à sorte, o destino de uma mão jogada?
Eu sei que, eu mesmo, milhares de vezes. Mas, sorte, no poker, é um conceito hoje cada vez mais abstrato a medida que um jogador avança em seus conhecimentos a respeito das milhares de variáveis capazes de ajuda-lo durante uma mão de poker.

Então, para muitos, sorte é pegar um par de ases seguidamente, ou de reis, ou damas, e assim por diante. Azar, é perder com par de ases, 2 ou 3 vezes em 5, em uma sessão. E quantas vezes pegamos pares de ás ou reis seguidas vezes numa sessão e eles não rendem nada ou quase nada?
Não, senhores. Isso não é sorte ou azar, isso é matemática de probabilidades.
Portanto, não considere a sorte o ponto crucial, considere, sim, saber extrair dos momentos de sorte (vejo o único momento de sorte, real, a distribuição de cartas (pocket) e a partir daí o jogador faz sua sorte) o máximo que for possível.

Na mão em questão, um torneio de 12 lugares, mesas de 6-max, com buy in de US$1,50, estava eu com um simples 6♥ 4♣  na posição de Big Blind.
A mesa, com 5 jogadores naquele momento, girou em limp  de dois dos três oponentes fora das blinds, eu, fora de posição e com uma mão sem valor, limitei-me a dar check e torcer por um flop razoável, senão jogaria normalmente de check/fold.

Para meu prazer, eis que o Flop me surpreende com um 4♦ 4♠ 8♦, me dando uma trinca.
Muitos jogadores, nesse momento, começarão a apostar e, em geral, dependendo da visão que seus oponentes têm, praticamente todos foldarão a essa primeira aposta, encerrando uma mão que poderia ser bem lucrativa.
Por outro lado, há também a analise de seus adversários.
Nesse momento especificamente eu estava jogando apenas uma mesa e pude ter bastante atenção aos meus vilões.
Sem posição e sendo o segundo a falar (o SB deu check) eu precisava decidir o que faria para extrair valor daquela mão extremamente forte naquele momento. Ao mesmo tempo, precisaria ter atenção nas duas cartas de ouros na mesa.

Bom, quem já jogou contra mim, sabe que jogo sempre TAG (Tight Agressive) ou, em dias não tão bons jogo um pouco Tight Passive, porém, sempre sou agressivo com boas mãos.
Não poderia mudar isso nesse momento e, com a ameaça de um flushdraw na mesa, não poderia ignorar a única arma que eu teria contra levar uma bad com trinca na mão.
Portanto, um check para armar uma armadilha, naquele momento, era pedir para levar uma bad.

Mas que espécie de aposta eu poderia dar sem revelar minha mão?
E dentre os três jogadores que ainda estavam na mão, qual ou quais me pagariam e por que me pagariam?
Observei eles e vi que se fizesse uma aposta padrão (2/3 ou 2/4 do pote) poderia ser encarado como tendo trinca. Isso deixaria um caminho, que era ser pago pelo jogador que tivesse flushdraw.
Resolvi mudar meu raise, num pote que tinha 200 fichas, normalmente apostaria 2/3 (150 fichas), porém, resolvi fazer uma aposta quebrada num valor um pouco acima disso, sem chegar perto de apostar pote (o que afugentaria automaticamente 90% das vezes todos os jogadores), apostei 165 fichas, variando diante deles o que eles poderiam esperar de mim.

Pode parecer a todos que isso não significa diferença, porém, se você observa um jogador e, sempre que ele acerta ele faz o mesmo valor de raise, você tem uma boa indicação do que ele tem, e eu sempre fui um jogador de padronizar valor de aposta, coisa que tenho abandonado sistematicamente, obtendo bons resultados, diga-se.

Como esperado, apenas um jogador me acompanhou, os demais foldaram.
Esse jogador, especificamente, já havia ganho mãos de mim. Observei que ele era um calling station, sempre apegado em excesso a mão que tinha sem saber a hora de largar.
Claro, nesses torneios isso não chega a ser um problema, pois muitas e muitas vezes não se acerta nada no flop, turn ou river e no showdown um jogador com um par pequeno ou que acertou uma carta baixa, ou até um ás ou rei de kicker leva os pequenos potes que todos jogam passivamente. Isso, sempre é o maior incentivo para se jogar calling station. E esse, especialmente, já havia abusado de minha paciência com essa “tática”.

Agora, o Turn ( J♦ ) não foi muito bom para mim, porém novamente a visão daquele jogador foi determinante.
Ele teria o flushdraw? Eu só saberia com minha próxima aposta.
Se eu desse check, temendo o flush, passaria a não importar se ele tem o flush ou não, pois eu estaria dando a ele a arma para blefar, criando uma duvida na minha cabeça que poderia me custar o pote.
Não, novamente, dar check não era uma opção para minha jogada.
Eu tinha acertado uma mão forte e, muitas pessoas até acham que deveriam ter dado allin no flop trincado e levado apenas aquele pote ou ido pro showdown torcendo para não levar bad.
Um jogador de verdade, mantem sua calma, mantem seu jogo, e no resultado final ele extrai o pote ou a lição da experiência e segue em frente.

No turn calculei mais uma vez uma aposta quebrada, 345 fichas (normalmente a aposta seria ¾ ou neste pote 400 fichas) e, dependendo da resposta eu amaria meu próximo passo, porém, sem desistir da agressividade, pois é um ponto chave em qualquer mão de poker.
O que eu esperava era que ele desse call simplesmente, isso reafirmaria a visão que eu tinha naquele momento, que ele tinha acertado o 8, ou o J no turn. Se ele respondesse com uma 3bet, com certeza, ele teria jogado com flushdraw no flop e concretizado no turn.

Como eu pensei ele deu call, me senti mais a vontade para manter minha agressividade, porém, comedida para não demonstrar minha mão.
Cabe frisar que meu adversário, como eu já disse, também tinha stats minhas e já tinha me visto jogar muito mais agressivo com overpairs ou trincas ou dois pares, portanto a chave da minha “arapuca” para ele era exatamente não jogar como jogaria com uma mão forte.
A essa altura, imaginei que ele tinha já descartado que eu tinha a trinca e provavelmente ele achava que eu tinha um 8. Com uma mão melhor que o 8, ele fatalmente teria tomado a iniciativa, pois já havia observado isso também nele. Por isso descartei ele ter o flushdraw ou o valete (J).

A dama ( Q♠ ) que veio no River não me abalou, naquele momento imaginei que, se ele tinha coisa melhor que o J, mesmo que fosse o a dama (Q), eu estaria na frente.
Era hora de jogar como quem desesperou e quer levar o pote de todo jeito, então, resolvi arriscar no pensamento: se eu mantiver a aposta, provavelmente ele vai apenas dar call e iremos para o showdown e levarei o pote (naquele momento em 1220 fichas), um pote considerável.

Calculei então, que era o momento do torneio (todo torneio tem esse momento em especial de grande decisão para se continuar nele ou não) que você tem que ir fundo para criar uma boa stack.
Apesar de ter odds negativas, estava confiante da minha avaliação a respeito do meu vilão e a respeito da imagem que ele havia feito de mim.

Resolvi aplicar um allin. 
Agora, a ideia era que, se ele tivesse um 8, ou um J ou um Q ou dois pares ele pagaria sem pensar, achando que eu teria um 8, que o J e o Q no turn e river não teriam melhorado minha mão para que eu apostasse mais do que as apostas quebradas que vinha fazendo e, acima de tudo, achando que um allin seria uma forma de tirar ele da mão e ficar com o pote sem showdown.
Sim, eu já havia feito isso com esse jogador, e, infelizmente, ele tinha razão, eu tentara roubar o pote e a mão dele (um par pequeno) prevaleceu.

Então, minha visão se confirmou, ele deu call no meu allin e abriu um par de 9.
Como eu esperava, ele tinha algo melhor que o 8 e pagou o allin imaginando que eu estava tentando roubar o pote.

Bem, minha intenção era mostrar um raio-x mais intimista da mão, apenas apontando  para você, jogador, que sorte só teve uma pequena porcentagem em uma mão em que arrastei um pote de 4640 fichas e basicamente, eliminei um jogador.
Se, com uma trinca no flop, eu tivesse jogado de outra forma, com check e raises ou invés de jogar sempre agressivo numa medica mais coerente, provavelmente ele teria, como já me aconteceu outras vezes, percebido que eu tinha a trinca de 4 e não o 8.
Claro que, se viesse outro 8 na mesa eu teria mudado a forma de jogar essa mão, mas, isso é historia para outro post.

Abração jogador, boa sorte nas mesas e, acima de tudo, analise não só seu adversário, mas também a imagem que ele faz de você.
Use isso contra ele. ;) Boas mesas a todos!!

Veja, abaixo, o boom dessa mão.



Nenhum comentário:

Postar um comentário