Poker vs.
Psicologia: Humildade ou Arrogância?
Bom, hoje estou de volta para analisar uma mão, porém, essa
não é uma da série do blog em que analisamos uma mão costumeiramente. A ideia
aqui é observar como a mente de um jogador deve estar tão preparada para o Poker quanto o seu físico.
Muitos jogadores sabem que em torneios é esperado passar-se
horas e horas à frente do monitor e muitos jogadores profissionais fazem
exercícios físicos para tal.
Por isso, muitas vezes quando alguém retruca que Poker não pode ser um esporte porque não
é uma atividade física. Eu discordo. Ninguém pode passar 5, 6... 8 horas
disputando um torneio sem estar preparado fisicamente para tal.
O cansaço, e
muitos outros problemas físicos que advêm já são conhecidos há anos, não
somente no Poker, mas em outras
atividades profissionais que requerem que se passe muito tempo sentado à frente
de um computador. Podemos tomar o LER (Lesão por Esforço Repetitivo) como um
bom exemplo disso.
Outro fator que deve ser fortemente trabalhado é o exercício
psicológico.
Poker, como todos nós
sabemos, pode ser um exercício extenuante para a mente, para o emocional. É
muito fácil dizer que, para um bom jogador, a mão que acabou, ACABOU, que ele
não deve se importar mais com ela e se focar na mão seguinte, friamente, como
se fosse a primeira mão daquele dia/sessão.
Mas, há que se admitir que, no
calor das “batalhas”, isso é algo mais simples de se dizer e de se escutar como
lição do que se poder realizar praticamente 100% do tempo.
É ai que entra o psicológico do jogador.
E, é nesse ponto
que você define um jogador vencedor de um jogador perdedor.
Imaginemos um jogador que jogou 2.500 torneios em 3 meses,
imaginemos que esse jogador se manteve a margem em seu ROI e que, mês a mês sem
avançar, mesmo maturando e evoluindo seu jogo, porém, sem ainda conseguir
evoluir nos resultados, e, no final desse período que citamos, ele começa a
ficar negativo até.
Que seu ROI passa a ser negativo, que sua porcentagem ITM
cai abaixo do necessário para se obter lucratividade nesse projeto e, por mais
que se observe os adversários, por mais que se observe seus próprios erros e
corrija-os, nada muda.
Será downswing? Os
outros jogadores são melhores e têm mais sorte? Seria nosso herói um jogador
ruim e não se dá conta disso?
Possível. Porém, esse não é o caso aqui. Downswings vem e passam, e mesmo épocas
de downswing têm momentos de
refresco. E, com certeza, não duram meses a fio. Sorte... bom, sorte é um fator
alheio ao bom jogador, ele depende pouco dela. Por isso, downswings são passageiros e a habilidade em algum momento do
trajeto ela falará mais alto que a sorte e o upswing virá.
Os outros jogadores são melhores? Não, não são melhores e
nem têm mais sorte, e, acredite, nem Deus gosta mais deles do que gosta de você
(caso você seja um religioso fanático que a cada bad beat culpa tudo e todos amaldiçoando Deus e, no final, se
diverte apenas aprendendo ou criando novos palavrões para descarregar sua ira
sobre o adversário que, convenhamos, nem imagina isso, então, tanto faz – momento pausa pra reflexão pessoal do autor),
então, você e o outro jogador estão em pé de igualdade, cabendo unicamente a
experiência e ao conhecimento ditar os rumos do jogo.
Como eu disse acima, realmente não é o caso, nosso herói é
um jogador habilidoso e tem aprendido e evoluído seu jogo nesses anos, porém,
evoluir e aprender suas jogadas, não adiantarão se você não aprender e evoluir
também seu pensamento.
Um exemplo na análise da mão a seguir, que farei rápido para
não alongar muito esse artigo.
Torneio 12p, 6-max, buyIn de $1,50, quatro jogadores
restando na mesa (ainda não era FT), blinds ainda nível 2 em 30/15 e nosso
herói no BU (Botton) entrando de limp com Q♣ 8♣ e, com isso,
permitindo que o SB e o BB e o UTG (os outros 3 restantes, portanto toda a mesa entrou na mão)
vissem o flop de forma barata.
Comum
essa jogada, porém, a maioria analisaria como incorreta, pois a posição
privilegiada daria ao nosso herói a chance de usar a mão para tentar um
movimento mais agressivo e, com isso, diminuir a quantidade de jogadores na
disputa da mão, fator imprescindível na disputa de qualquer mão que se queira
ganhar.
Nosso flop traz um
K♣, um T♣, ambos de paus, mesmo naipe
do nosso herói, e um 6♥.
Nosso herói com draw de flush e bem posicionado, deveria nesse
momento observar a ação e tentar tomá-la para si, na forma de agressor, o que
seria mais fácil se houvesse dado um raise
anteriormente do que agora, com vários jogadores no pós-flop. Diante do check
geral, nosso herói faz um raise
padrão, onde recebe call do SB e do BB, completando com um fold
do UTG. Até aqui, perfeito, o que
iniciamos errado pode se transformar de repente num acerto.
O turn nos traz um
J♣ de paus, consagrando nosso herói
com um belo flush.
Não vou aqui
desfilar a gama de ações que se poderia tomar nesse momento, porém, limito-me a
dizer que nosso herói jogou de forma correta em parte pois, diante do check dos vilões ele aplicou um raise abaixo de 50% do pote, algo
inadmissível para uma estratégia agressiva como almeja nosso herói em seu
crescimento como jogador de Poker.
Quando
você faz uma mão e tem um estilo agressivo, você não pode ficar toda hora
alternado agressividade e passividade com a desculpa de querer extrair valor da
mão, você precisa ser coerente consigo mesmo, não com seu adversário, pois esse
muda a cada mão, mas consigo mesmo.
Nem toda mão é passível de se extrair
valor, na verdade, a grande maioria não é e, em determinado ponto, se passa a
fazer isso como via de regra e o convite que isso faz à bad beat é imenso.
Nosso herói da um raise de 180 fichas num pote de 390 fichas
com um flush na mão.
O SB responde com um reraise, dobrando a aposta de nosso herói, seguido de um call do BB. Novamente demonstrando alteração na sua tática, nosso herói
escolhe dar call apenas.
O turn nos traz um
A♥ de copas, que completa 4 cartas
sequenciais na board, apontando que
havia a enorme possibilidade de um dos jogadores ter feito uma sequência possuindo a dama que faltava.
Porém, nosso herói está à frente disso, afinal flush ganha de sequência.
Nesse momento, o SB
anuncia allin, o BB dá call e nosso herói, último a falar,
para, pensa e anuncia FOLD.
Isso
mesmo senhores, FOLD.
Não posso
deixar de chamar a atenção para minha total indignação quanto a esse fold.
Como jogador de Poker há quase 9 anos, perdi muitas mãos
e já ganhei muitas mãos, já me salvei com folds
estranhos, mas nunca foldei uma mão
que eu, por força da minha forma de jogar, tenho total confiança que é
vencedora, esteja certo ou errado, isso faz parte da essência de jogar,
essência essa que geralmente só pode ser colocada de lado em virtude de um
fator, o psicológico.
Abaixo, coloco o boom dessa mão para ilustrar melhor, pois
me é doloroso dizer que o SB ganhou a mão com um flush com 89s de paus na mão.
Ou seja, nosso herói foldou
completamente equivocado.
Cabe aqui salientar que nosso herói não foldou por acaso.
Ele foldou
acreditando que, o SB possuía o A de paus que faltava na equação, e que também
havia feito flush. Por que isso?
Sim, voltamos àquela máxima do início do post sobre levar
mãos anteriores para a mesa nas decisões das novas mãos que se joga. E deixar
que elas assombrem seu jogo.
Psicologicamente você mesmo se rotula como um
perdedor que sempre sofrerá o mesmo golpe, então se amedronta e comete o erro,
como foi o caso de nosso amigo.
Agora vejam, poderia muito bem o SB abrir um
flush com o A, mas isso seria perfeitamente normal e nosso herói teria perdido
para o jogador da SB, o que não foi o caso, nosso herói perdeu para ele mesmo,
para seu psicológico abalado pela experiência que, provavelmente, está se
tornando negativa justamente por esse fator psicológico.
A lição a se tirar disso é que, humildade é pra jogador de
futebol em coletiva de imprensa.
Jogador de futebol joga com 10 outros
marmanjos pra dividir a culpa ou a vitória.
Jogador de Poker não, joga sozinho e, nesse mondo solitário que ele tem dentro
de sua cabeça durante a mão que disputa, ele deve ser seu próprio Deus, ele
deve ser e se achar o grande vencedor e um grande jogador.
Jamais, em momento
algum se menospreze numa mesa de Poker,
porque o primeiro passo de ser um perdedor, é acreditar que é um perdedor.
Nosso herói é um excelente jogador e precisa se
conscientizar disso, confiar em si próprio pois tem feito um grande trabalho de
crescimento como jogador de Poker o
que, com toda certeza, também traz um grande crescimento como pessoa, apesar
dele já ser uma pessoa especial sempre.
Por isso, meu amigo, uso esse post para
lhe dizer que levante a cabeça e prossiga nessa luta que você tem levado até
mais a sério do que eu mesmo, me dando exemplo e força, que é o mínimo que eu
posso te passar nesse momento. A você e a todos os jogadores, confiem sempre em
si mesmos, mesmo que isso beire a arrogância e que isso não seja parte do seu
caráter e, jamais sentem na mesa para jogar mãos passadas.
Grande abraço para todos e, principalmente, pro meu amigo e
excelente jogador que precisa, mais do que nunca, se conscientizar disso, Luke.
MarcioCP
PokerManiaBR
Nenhum comentário:
Postar um comentário