domingo, 2 de fevereiro de 2014

Poker vs. Psicologia: Humildade ou Arrogância?

Poker vs. Psicologia: Humildade ou Arrogância?

Bom, hoje estou de volta para analisar uma mão, porém, essa não é uma da série do blog em que analisamos uma mão costumeiramente. A ideia aqui é observar como a mente de um jogador deve estar tão preparada para o Poker quanto o seu físico.

Muitos jogadores sabem que em torneios é esperado passar-se horas e horas à frente do monitor e muitos jogadores profissionais fazem exercícios físicos para tal.
Por isso, muitas vezes quando alguém retruca que Poker não pode ser um esporte porque não é uma atividade física. Eu discordo. Ninguém pode passar 5, 6... 8 horas disputando um torneio sem estar preparado fisicamente para tal.
O cansaço, e muitos outros problemas físicos que advêm já são conhecidos há anos, não somente no Poker, mas em outras atividades profissionais que requerem que se passe muito tempo sentado à frente de um computador. Podemos tomar o LER (Lesão por Esforço Repetitivo) como um bom exemplo disso.

Outro fator que deve ser fortemente trabalhado é o exercício psicológico.
 Poker, como todos nós sabemos, pode ser um exercício extenuante para a mente, para o emocional. É muito fácil dizer que, para um bom jogador, a mão que acabou, ACABOU, que ele não deve se importar mais com ela e se focar na mão seguinte, friamente, como se fosse a primeira mão daquele dia/sessão.
Mas, há que se admitir que, no calor das “batalhas”, isso é algo mais simples de se dizer e de se escutar como lição do que se poder realizar praticamente 100% do tempo.

É ai que entra o psicológico do jogador.
E, é nesse ponto que você define um jogador vencedor de um jogador perdedor.
Imaginemos um jogador que jogou 2.500 torneios em 3 meses, imaginemos que esse jogador se manteve a margem em seu ROI e que, mês a mês sem avançar, mesmo maturando e evoluindo seu jogo, porém, sem ainda conseguir evoluir nos resultados, e, no final desse período que citamos, ele começa a ficar negativo até.
Que seu ROI passa a ser negativo, que sua porcentagem ITM cai abaixo do necessário para se obter lucratividade nesse projeto e, por mais que se observe os adversários, por mais que se observe seus próprios erros e corrija-os, nada muda.

Será downswing? Os outros jogadores são melhores e têm mais sorte? Seria nosso herói um jogador ruim e não se dá conta disso?
Possível. Porém, esse não é o caso aqui. Downswings vem e passam, e mesmo épocas de downswing têm momentos de refresco. E, com certeza, não duram meses a fio. Sorte... bom, sorte é um fator alheio ao bom jogador, ele depende pouco dela. Por isso, downswings são passageiros e a habilidade em algum momento do trajeto ela falará mais alto que a sorte e o upswing virá.
Os outros jogadores são melhores? Não, não são melhores e nem têm mais sorte, e, acredite, nem Deus gosta mais deles do que gosta de você (caso você seja um religioso fanático que a cada bad beat culpa tudo e todos amaldiçoando Deus e, no final, se diverte apenas aprendendo ou criando novos palavrões para descarregar sua ira sobre o adversário que, convenhamos, nem imagina isso, então, tanto faz – momento pausa pra reflexão pessoal do autor), então, você e o outro jogador estão em pé de igualdade, cabendo unicamente a experiência e ao conhecimento ditar os rumos do jogo.
Como eu disse acima, realmente não é o caso, nosso herói é um jogador habilidoso e tem aprendido e evoluído seu jogo nesses anos, porém, evoluir e aprender suas jogadas, não adiantarão se você não aprender e evoluir também seu pensamento.

Um exemplo na análise da mão a seguir, que farei rápido para não alongar muito esse artigo.

Torneio 12p, 6-max, buyIn de $1,50, quatro jogadores restando na mesa (ainda não era FT), blinds ainda nível 2 em 30/15 e nosso herói no BU (Botton) entrando de limp com Q♣ 8♣ e, com isso, permitindo que o SB e o BB e o UTG (os outros 3 restantes, portanto toda a mesa entrou na mão) vissem o flop de forma barata.
Comum essa jogada, porém, a maioria analisaria como incorreta, pois a posição privilegiada daria ao nosso herói a chance de usar a mão para tentar um movimento mais agressivo e, com isso, diminuir a quantidade de jogadores na disputa da mão, fator imprescindível na disputa de qualquer mão que se queira ganhar.

Nosso flop traz um K♣, um T♣, ambos de paus, mesmo naipe do nosso herói, e um 6♥.
Nosso herói com draw de flush e bem posicionado, deveria nesse momento observar a ação e tentar tomá-la para si, na forma de agressor, o que seria mais fácil se houvesse dado um raise anteriormente do que agora, com vários jogadores no pós-flop. Diante do check geral, nosso herói faz um raise padrão, onde recebe call do SB e do BB, completando com um fold do UTG. Até aqui, perfeito, o que iniciamos errado pode se transformar de repente num acerto.

O turn nos traz um J♣ de paus, consagrando nosso herói com um belo flush.
Não vou aqui desfilar a gama de ações que se poderia tomar nesse momento, porém, limito-me a dizer que nosso herói jogou de forma correta em parte pois, diante do check dos vilões ele aplicou um raise abaixo de 50% do pote, algo inadmissível para uma estratégia agressiva como almeja nosso herói em seu crescimento como jogador de Poker.

Quando você faz uma mão e tem um estilo agressivo, você não pode ficar toda hora alternado agressividade e passividade com a desculpa de querer extrair valor da mão, você precisa ser coerente consigo mesmo, não com seu adversário, pois esse muda a cada mão, mas consigo mesmo.
Nem toda mão é passível de se extrair valor, na verdade, a grande maioria não é e, em determinado ponto, se passa a fazer isso como via de regra e o convite que isso faz à bad beat é imenso.

Nosso herói da um raise de 180 fichas num pote de 390 fichas com um flush na mão.
O SB responde com um reraise, dobrando a aposta de nosso herói, seguido de um call do BB. Novamente demonstrando alteração na sua tática, nosso herói escolhe dar call apenas.

O turn nos traz um A♥ de copas, que completa 4 cartas sequenciais na board, apontando que havia a enorme possibilidade de um dos jogadores ter feito uma sequência possuindo a dama que faltava. Porém, nosso herói está à frente disso, afinal flush ganha de sequência.

Nesse momento, o SB anuncia allin, o BB dá call e nosso herói, último a falar, para, pensa e anuncia FOLD.
Isso mesmo senhores, FOLD.

Não posso deixar de chamar a atenção para minha total indignação quanto a esse fold.
Como jogador de Poker há quase 9 anos, perdi muitas mãos e já ganhei muitas mãos, já me salvei com folds estranhos, mas nunca foldei uma mão que eu, por força da minha forma de jogar, tenho total confiança que é vencedora, esteja certo ou errado, isso faz parte da essência de jogar, essência essa que geralmente só pode ser colocada de lado em virtude de um fator, o psicológico.

Abaixo, coloco o boom dessa mão para ilustrar melhor, pois me é doloroso dizer que o SB ganhou a mão com um flush com 89s de paus na mão. Ou seja, nosso herói foldou completamente equivocado.




Cabe aqui salientar que nosso herói não foldou por acaso.
Ele foldou acreditando que, o SB possuía o A de paus que faltava na equação, e que também havia feito flush. Por que isso?
Sim, voltamos àquela máxima do início do post sobre levar mãos anteriores para a mesa nas decisões das novas mãos que se joga. E deixar que elas assombrem seu jogo.

Psicologicamente você mesmo se rotula como um perdedor que sempre sofrerá o mesmo golpe, então se amedronta e comete o erro, como foi o caso de nosso amigo.
Agora vejam, poderia muito bem o SB abrir um flush com o A, mas isso seria perfeitamente normal e nosso herói teria perdido para o jogador da SB, o que não foi o caso, nosso herói perdeu para ele mesmo, para seu psicológico abalado pela experiência que, provavelmente, está se tornando negativa justamente por esse fator psicológico.

A lição a se tirar disso é que, humildade é pra jogador de futebol em coletiva de imprensa.
Jogador de futebol joga com 10 outros marmanjos pra dividir a culpa ou a vitória.
Jogador de Poker não, joga sozinho e, nesse mondo solitário que ele tem dentro de sua cabeça durante a mão que disputa, ele deve ser seu próprio Deus, ele deve ser e se achar o grande vencedor e um grande jogador.


Jamais, em momento algum se menospreze numa mesa de Poker, porque o primeiro passo de ser um perdedor, é acreditar que é um perdedor.
Seja um vencedor, mas comece sendo um vencedor em sua cabeça. É o campo de batalha onde você ganhará todas as guerras.
Nosso herói é um excelente jogador e precisa se conscientizar disso, confiar em si próprio pois tem feito um grande trabalho de crescimento como jogador de Poker o que, com toda certeza, também traz um grande crescimento como pessoa, apesar dele já ser uma pessoa especial sempre.

Por isso, meu amigo, uso esse post para lhe dizer que levante a cabeça e prossiga nessa luta que você tem levado até mais a sério do que eu mesmo, me dando exemplo e força, que é o mínimo que eu posso te passar nesse momento. A você e a todos os jogadores, confiem sempre em si mesmos, mesmo que isso beire a arrogância e que isso não seja parte do seu caráter e, jamais sentem na mesa para jogar mãos passadas.

Grande abraço para todos e, principalmente, pro meu amigo e excelente jogador que precisa, mais do que nunca, se conscientizar disso, Luke.

MarcioCP
PokerManiaBR


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