terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Por que não fazer slowplay?

Por Que Não Fazer SlowPlay?


Por Victor Begara ( Headão )

Primeira Parte

Bom, todos sabem que o poker não tem muitas verdades absolutas, mas se tem uma coisa que todos tem que praticamente abolir é o famoso “Slowplay” (dar mesa com mão muito forte).

Hoje parei para analisar algumas “hand histories” do pessoal que faz o curso semestral aqui no QG Akkari Team e a quantidade de slowplay que eu vi em situações horríveis pra isso foi assustadora.
Como acho que esse é um erro muito comum, resolvi aproveitar e escrever um pouco sobre isso.

Vou dar alguns exemplos de mãos e depois mostrar as minhas conclusões.

Todas as mãos temos stack efetivo de 40bbs ou mais:
1 – Board: KhQsJs
A – Chega em check até o Hero que tem AKo contra 2 jogadores, bet 70% do pote.
B – Chega em check até o Hero que tem AT (nuts) contra 3 jogadores, insta check.

2 – Board: Js9s8h
A – Um jogador limp pré-flop, Hero raise (aumenta) com KJ, BB e limper call. Flop chega em check e Hero aposta 60%
B - Um jogador limp pré-flop, Hero raise (aumenta) com QT BB e limper call. Flop chega em check e Hero check atrás.

Isso pra mim deixa bem claro que:

1 – Com nuts as pessoas dão muita mesa por MEDO de não serem pagos, e esse medo é mais forte do que o raciocínio lógico que deveriam usar enquanto jogam as mãos.
2 – Com top pair as pessoas não apostam pensando em extrair por valor, mas sim por ter medo de acabar perdendo a mão e por achar que se o vilão foldar não tem problema já que top pair é relativamente vulnerável (o suficiente para terem medo de perder).
3 – Geral joga poker pensando em ganhar mãos, não em fazer a jogada de maior valor possível*** (já que com nuts não tentam extrair tudo, se contentam ao saber que “ja vão puxar” o pote.



Dicas para tirarmos o maior valor possível de uma mão !

1 – As pessoas pagam muito mais no flop e no turn ! Elas tem esperança de melhorar a mão, então apostando no flop extraímos valor flop e turn de mãos médias, que em caso de darmos mesa, vão dar mesa atrás, pagar turn e foldar river.
2 – As pessoas blefam menos do que a gente pensa, não vale a pena ficar dando mesa “pra pegar o malandro” (e em geral qualquer jogada que a gente faça pra crescer o pote depois de dar check vai dar muito mais medo no cara do que uma simples continuation bet)
3 – Quando apostamos no flop escolhemos o tamanho da aposta para crescermos o pote da melhor forma possível.
4 – Quando apostamos no flop abrimos a chance de tirar 3 streets (flop/turn/river) de valor e ganhar todo stack do vilão. Lembrando que no river o pote estará muito grande e podemos conseguir uma aposta bem grande, talvez o stack inteiro do vilão. Se dermos mesa, vamos pegar só 2 streets de valor e abrimos mão de jogar o river com um pote gigante (que em geral da mais ficha que ganharmos na mão seguinte mais 2 streets de valor).

*** No poker a única jogada boa é que nos dá mais fichas no longo prazo.
Foldar AA PF só é ruim porque o valor esperado de se jogar AA é maior do que o de fold.
Jogar 72o é ruim porque o valor esperado dele é menor do que fold.
Quando a gente joga pós-flop pensando em ganhar mãos ao invés de extrair o valor máximo, estamos abrindo mão de uma jogada com valor esperado de 5bbs pra fazer uma de 2bbs. Ou seja, é como se estivéssemos “perdendo” 3bbs. É como se estivéssemos jogando 72o.


Como no poker não existe regra de bolo e em algumas situações o slowplay até é aceitável, em um próximo post mostrarei em quais boards podemos fazer slowplay e quando o slowplay é um DESASTRE!


Segunda Parte

Bom, na primeira parte eu tentei deixar bem claro as vantagens de apostarmos com nossas mãos fortes e talvez tenha dado a impressão de que NUNCA devemos usar o slowplay (o que realmente não é um desastre).

Agora que acredito que tenham entendido bem as desvantagens do SlowPlay, vou mostrar tipos de flop diferentes, comenta-los e concluir se o SlowPlay é criminoso ou recomendável.

1 – Temos JJ e abrimos com raise no CO, BB paga. Flop: Jh9s8s. BB check e nos deixa com a ação.

Comentário sobre o board:

Muito conectado, cheio de draws e possibilidade de par+draws, o típico board que ninguém “nunca” folda porque sempre acaba acertando alguma coisa.
Outra característica desse board é que temos muitas cartas para ver no turn que acabam “quebrando a ação” (assustando nós e o vilão), qualquer Q, T ou 7 vão assustar até as trincas, cartas que completam flush, K e A também podem fazer com que o vilão pise no freio no turn.


Range do BB:
Obviamente depende do vilão, mas em geral qualquer duas cartas acima de 8 conectadas por até um gap (T8, J9), qualquer cartas acima de 7 conectadas (78, T9, etc), qualquer duas brodways (cartas de T pra cima), ases suited e A7-AJ (AQ provavelmente da 3bet no BB contra o CO), K8-K9s, KT-KQo e pares.

Board + Range do BB:
Definindo as mãos que as pessoas costumam jogar no BB fica bem claro que o board acerta em cheio a maior parte dessas mãos. Usando um programa chamado “Flopzilla”, vemos que o vilão terá pelo menos Top pair+ e Par+broca ou melhor cerca de 66% das vezes.

O que fazer com mãos muito fortes?
BET, dar mesa atrás aqui é TERRÍVEL, é rasgar dinheiro.

2 – Hero tem KK, raise em MP2, recebe call do BTN (que é agressivo), SB e BB. FLOP: K52r.

Comentário sobre o board:
Board seco, não temos draws, nada que encoraja um call. Normalmente as pessoas foldam bastante pra Cbet nesse board por ter muitas mãos sem chance de fazer qualquer coisa.

Ranges:
Em geral os três ranges são compostos por “undercards”, ou seja, cartas abaixo da mais alta do board, como JQ, TJ, 89s e pares. Como temos dois reis, a chance de alguém ter top pair é baixa.

Board + Range:
Board não acerta muito o range de nenhum dos vilões, a mão mais forte deles é um improvável top pair e algum par abaixo do K, que não vão pagar mais de uma aposta (se é que pagam a primeira, já que tem 4 pessoas no jogo). Contra as trincas mais baixas não precisamos fazer nada, já que em algum momento vai acabar indo tudo de qualquer jeito.

O que fazer com KK (top set/trinca mais alta) nesse caso?
Aqui um check é BOM, ele abre espaço para o BTN, que é agressivo, blefar, e caso ele dê check, damos uma carta grátis para que um dos três vilões acerte uma mão para pagar nossa aposta no turn e no river.
Se tivessemos trinca menor que o K o check ainda seria justo, com o bet nós até extrairíamos um bom valor dos top pairs (ja que sem termos KK na mão tem mais chance de alguém ter top pair), mas ainda assim não tem muita coisa para pagarem, então a chance do BTN blefar e de acertarem algo decente no turn pode justificar o check.

Conclusão:

Boards conectados:
Ruins para SlowPlay, devemos betar com nossas mãos de valor.

Boards secos:
“Bons” para SlowPlay, mas devemos lembrar que em muitos casos mesmo no board seco alguns vilões vão pagar nossa aposta para nos blefar no turn, aí mesmo assim pode valer a pena apostar no flop e dar um check no turn, por exemplo.

É isso aí galera, apesar de não ter receita de bolo no poker, acredito que essa é uma boa base de como jogar as grandes mãos de valor. Só lembrem que é importante mantermos a mente aberta e se adaptar a cada tipo de vilão.


Abraços!


Artigo publicado originalmente no site Headão

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